Portugueses regressam à rua: devagar, “com civismo” e de máscara
A partir desta segunda-feira, os portugueses podem recuperar a “normalidade possível” e regressar à rua — mas com cuidados. Em Portugal, de acordo com os últimos dados, registavam-se 25.282 casos positivos e 1043 mortes.
Um homem dobrado pelos problemas na coluna e a idade, parava cada transeunte que passava no centro de Beja com máscara posta para lhe colocar uma questão: “Anda de boca tapada? Atão como é que come?” As reacções iam do silêncio a comentários entre dentes pouco agradáveis para o brincalhão que nem máscara usava apesar dos seus anos de vida já o incluírem nos grupos de risco.
Não era o único. Na realidade, às 10 horas desta manhã, o movimento de rua em Beja era equivalente ao que se observava antes da chegada da pandemia. No percurso que o PÚBLICO efectuou pelo centro da cidade, pessoas sem máscara seriam a maioria e entre os que recorriam ao seu uso também se notava os que só tapavam a maçã-de-adão, o queixo ou a testa.
Outros e outras optavam por colocar a máscara na algibeira da camisa, dependurada numa das mãos e até se viu quem a fazia de ventoinha, a rodar no dedo apontador, para mostrar que estava a ser previdente e trazia a máscara consigo.
Nas lojas as precauções estavam a ser tomadas com mandam as regras impostas. E os carros voltaram a atravancar até sítios onde é proibido estacionar. As conversas ao pé de orelha regressaram nos encontros de vizinhos e amigos que regressaram ao espaço público.
Com vários espaços ainda fechados, Guimarães sai lentamente à rua
“Vê-se mais gente nas ruas do que nas últimas semanas, mas não tem nada a ver com aquilo que era antes. Nem sei se vai voltar a ser”, descreve ao PÚBLICO Manuel Couto, proprietário do Quiosque do Cantinho, um estabelecimento na esquina entre a Rua de Paio Galvão e o Largo do Toural que funciona desde 1951 e que se manteve aberto durante Março e Abril.
O primeiro amanhecer de Guimarães após o estado de emergência é um ensaio tímido de regresso à normalidade. Várias silhuetas, normalmente de máscara posta, caminham entre a Rua de Santo António, o Largo do Toural e a Alameda de São Dâmaso, eixo contíguo ao centro histórico, com boa parte do comércio de rua da cidade ainda cauteloso, entre lojas que encaram a reabertura com precaução e outras que se mantêm simplesmente fechadas.
Por volta das 10h, a Barbearia Ideal, em pleno centro histórico, estava já aberta, mas, em muitos outros espaços, viam-se comerciantes atarefados, a limparem os estabelecimentos por fora e por dentro, antes de os reabrirem ao público.
Mas o movimento junto dos espaços comerciais era escasso por essa hora. O único sítio com pessoas concentradas, cerca de uma dezena, era o edifício da Caixa Geral de Depósitos, no Toural. Sem especificar o motivo para ali estar, Bernardo Cardoso disse ao PÚBLICO que a fila era o resultado de serem permitidos somente dois clientes em simultâneo no interior do banco.
Do outro lado da praça, Manuel Couto ia vendendo “raspadinhas” e tabaco com regularidade. Jornais, bem menos, até perto das 10h, só vendera três exemplares. “Se não fossem os jogos da Santa Casa da Misericórdia e o tabaco a sustentarem a facturação, já tinha fechado isto. Vendem-se muito poucos jornais e, com o fecho dos cafés e das pastelarias, ainda pior”, constatou.