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Do café Rio aos microlotes especiais


Leia, na sequência, artigo de autoria de Eduardo Cesar, pesquisador na área de café.


A reputação do Brasil como produtor de cafés de baixa qualidade remonta ao século XIX. Diversos fatores contribuíram para que essa imagem se formasse, e alguns ainda estão presentes na cafeicultura moderna. A fama dos concorrentes como produtores de qualidade também teve origem naquela época. Embora o conceito de cafés especiais tenha surgido muito depois, os importadores já mostravam disposição para pagar prêmios por grãos com determinadas características. A mudança de paradigma da cafeicultura brasileira veio apenas na década de 1990.

Por volta de 1840 o Brasil já era o maior exportador de café do mundo. Até o final do século sua participação nas exportações globais chegou a 80%. O domínio do mercado cafeeiro pelo nosso país foi, sem dúvidas, um grande feito, mas isso ocorreu por meio da venda de grãos inferiores. Segundo o historiador Mark Pendergrast, os cafés eram classificados apenas em Brazils e milds (suaves). O problema é que Brazil significava café amargo, em oposição aos suaves. No porto, ele era o famoso Café Rio.

Pode-se imaginar que os compradores depreciavam a qualidade do nosso produto simplesmente por ser muito abundante. No entanto, os grãos brasileiros eram colhidos por meio da derriça, com mistura de todo tipo de café. Na América Central, por outro lado, já ocorria a colheita seletiva. O método de despolpamento surgiu nas Índias Ocidentais, atualmente Antilhas e Bahamas, e chegou ao Ceilão e à Costa Rica ainda no século XIX.

A secagem e o beneficiamento eram muito rudimentares. O clima e a altitude das lavouras brasileiras também contribuíram para a imagem negativa. Logo se percebeu que o café nacional tinha menos corpo e acidez que os de outras regiões. De acordo com o historiador Mario Samper, variações na qualidade da bebida eram facilmente percebidas pelo fato dela ser consumida com poucos aditivos. Assim, a variação de sabor entre as diferentes origens logo ganhou importância comercial.

Todos esses fatores se refletiam no preço. Os registros históricos mostram que o grão brasileiro era mais barato que o de outras origens muito antes da criação dos padrões atuais.


Preço de importação do café em New York entre 1858 e 1864, em centavos de Dólar por libra (preço corrente).


No século XX, o Brasil continuou produzindo café em quantidades cada vez maiores. Se houve alguma possibilidade do país explorar a produção de cafés superiores, ela desapareceu com as políticas de defesa do preço e a superprodução que marcaram a primeira metade do século. Enquanto isso, os concorrentes iam se especializando em cafés lavados, embora a adoção desta tecnologia não tenha sido tão rápida. Segundo a professora Julie Charlip, apenas 40% da produção da Costa Rica era processada pela via úmida na década de 1920.

A partir de 1960 a pesquisa brasileira forneceu novas variedades, mais produtivas, aos cafeicultores. Também ocorreram mudanças na implantação e manejo das lavouras que proporcionaram maior produção por área. No entanto, lavouras produtivas demandam muitos cuidados e grande parte dos cafeicultores não estava preparada para isso, como explicam Lucas Silva e José Cortez. O resultado foi uma perda ainda maior de qualidade. Por fim, no início dos anos 1990, o fim dos Acordos Internacionais do Café derrubou os preços, o que desestimulou os tratos culturais.

Foi justamente naquele momento crítico que a virada começou. A torrefadora italiana illycaffè, que comercializa um blend com grande percentual de café brasileiro, notou a diminuição da qualidade. Então, para incentivar a produção de grãos com o padrão adequado, criou um concurso que existe até hoje. Era um sinal do mercado para a cafeicultura brasileira: há potencial para a qualidade e há quem pague por ela!

A partir daí a pesquisa nacional investiu em inúmeros experimentos para desvendar os segredos da qualidade do café. Novas práticas e tecnologias foram criadas e disseminadas nas regiões produtoras. O cereja descascado ganhou espaço e, posteriormente, teve início a valorização dos cafés naturais. Os concursos de qualidade se multiplicaram pelo país e, atualmente, as exportações de cafés diferenciados crescem continuamente.

A recompensa veio na forma de reconhecimento. Após quase três séculos de produção de café, e mais de 150 anos de liderança mundial, os grãos brasileiros são sinônimo de qualidade. O país é o principal fornecedor de grandes torrefadoras internacionais, conhecidas por exigirem padrões específicos. O nome Brazil já estampou a embalagem de várias edições especiais vendidas no mundo todo e, mais recentemente, as fazendas brasileiras passaram a ganhar destaque com a venda de microlotes para torrefadoras artesanais e cafeterias de terceira onda.

A história não acaba aqui. O mercado de cafés especiais está em pleno desenvolvimento e os cafeicultores nacionais ocupam um espaço cada vez maior nele. Os próximos capítulos estão sendo escritos por uma vasta rede de atores do agronegócio café. E o público internacional está ansioso por eles.

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    Safra 22/23 25% R$ 1320,00
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    Safra 22/23 15% R$ 1340,00
    Safra 22/23 25% R$ 1320,00
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    Safra 22/23 20% R$ 1330,00
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    Duro/Riado 30% R$ 1270,00
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    Safra 22/23 15% R$ 1340,00
    Safra 22/23 25% R$ 1320,00
    Duro/riado 25% R$ 1260,00
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  • Linhares
    Descrição Valor
    Conilon T. 6 R$ 1172,00
    Conilon T. 7 R$ 1164,00
    Conilon T. 7/8 R$ 1156,00