Grande pergunta do mercado: qual será o nível de equilíbrio para o café
Por Jose Roberto Marques da da Costa Em todos os mercados ao redor do mundo existem vários fundamentos que tornam os preços instáveis e voláteis, mas existe o principal fundamento, que é a chamada Lei da "oferta e demanda". Naturalmente, quando a produção supera a demanda, os preços tendem a cair até achar um equilíbrio e quando a demanda for maior que a oferta, os preços tendem a subir até buscar um novo equilíbrio.
A grande pergunta do mercado é: qual será o nível de equilíbrio para o café? 150 cents, 180 cents ou mais de 200 cents?
Segundo os últimos comentários que estão sendo feitos por vários analistas, o mercado está sendo impulsionado em parte pelo clima mais seco numa época que café necessitava de chuva, fato que efetivamente prejudicou as perspectivas para a próxima safra de café arábica brasileira.
Nesta semana, o banco holandês Rabobank divulgou números totalmente fora da realidade atual brasileira, numa estimativa que apontou que a nova safra brasileira seria de 56,2 milhões de sacas, sendo que 36 milhões de sacas seriam de café arábica e que o déficit global na safra 2021/2022 deverá chegar a 2,6 milhões de sacas.
A diferença dos números com outras fontes é gritante passando de 10 milhões de sacas. Vamos mencionar somente duas entidades. O IBGE estimou em 45 milhões de sacas, sendo 31,7 milhões de sacas de arábica; a Conab, por seu turno, estimou a produção média de 46,6 milhões de sacas, sendo 31,3 milhões de arábica.
O site Agnocafé está antecipando, há vários meses, que a safra de café arábica vai ter uma forte queda nesta temporada de 2021/2022, devido a grande escassez de umidade (chuva) na época da floração dos grãos de café. Naquela época, a Agnocafé já descrevia que, além do ano de colheita baixa, poderia ser acrescentada uma queda em torno de 40% do café arábica devido ao clima, o que faria com que a produção caísse para em torno de 32 milhões de sacas.
As pesquisa com vários setores apontavam para uma provável safra de 32 milhões de sacas de café arábica para o país. No entanto, levantamentos atualizados já sustentam para números menores que 30 milhões, sendo que vários atores trabalham com volumes entre 28 e 30 milhões de sacas. Tendo como base esses números, o déficit global de café tende a ficar entre 8 a 10 milhões de sacas.
Sabendo dessas informações, há vários meses, que poderiam trazer inquietação ao mercado, em setembro do ano passado, houve uma mudança que poucos perceberam e que Agnocafé chamou de "mudança escandalosa" de regras na classificação da qualidade do café certificados na bolsa de NY para beneficiar os grandes traders. A partir daquela data, passaram a ser aceitos cafés de origens brasileiras, que passaram de menos de mil sacas para 770 mil nos últimos cinco meses. Caso não existisse essa mudança, hoje os estoques certificados da ICE Futures US estariam bem abaixo de 1 milhão de sacas, o que mudaria completamente a performance do mercado.
Segundo comentário de Marcelo Fraga Moreira, no artigo da Archer Consultoria, "esse café brasileiro tem sido o grande responsável pelo aumento dos estoques de 'café certificado'. Se não fosse pela reposição dos estoques certificados com café brasileiro onde estariam as cotações em Nova Iorque hoje? 200-300 centavos de dólar por libra-peso?"
Outro artigo interessante que merece atenção, foi da autoria de Shawn Hackett, da empresa Hackett Advisers tendo como base a formação de um algoritmo relacionado à geada nas zonas de café do Brasil. "Fizemos um estudo exaustivo sobre todas as geadas severas do café no Brasil desde 1900 e encontramos um conjunto básico no DNA consistente do ciclo climático, com as variáveis climáticas e marcadores de teleconexão que existiram durante esses eventos extremos de frio. Atualmente, todos esses indicadores estão tendo conversão pela primeira vez desde 1994. A forte geada de 1994 foi devastadora para a produção de café arábica em Minas Gerais (-40%) e São Paulo (-50 %) até hoje ainda é um marco importante para a cafeicultura"..