Fundamentos indicam quadro difícil e preocupante para o abastecimento global
Santos, sexta-feira, 16 de setembro de 2022
A quase certeza de que, na próxima semana, o Fed, o banco central americano, elevará os juros com mais agressividade para conter a inflação, pressionou as cotações de grande parte das comodities e o mercado acionário nos EUA. No mercado de café, tivemos uma semana de baixa na ICE Futures US em Nova Iorque. Hoje, os contratos de café na ICE trabalharam em queda moderada. Os para dezembro próximo recuaram 130 pontos e fecharam valendo US$ 2,1510 por libra peso. Ontem, único dia de alta na semana, subiram 155 pontos. No balanço desta semana somaram perdas de 1 340 pontos. Na sexta-feira passada apresentaram alta de 630 pontos e encerraram o dia a US$ 2,2850 por libra peso. No balanço da semana passada esses contratos recuaram 30 pontos. A forte alta do dólar frente ao real na semana, 2,17 %, atenuou a queda dos preços no mercado físico brasileiro.
No café, especuladores e fundos com interesses de curto prazo acompanharam esses movimentos globais de queda nos ativos de risco e pressionaram as cotações. A falta de estoques de café, tanto nos países produtores como nos países consumidores, e os seguidos eventos extremos no clima global, que vêm derrubando a produção mundial de café nos últimos anos, foram colocados em segundo plano.
Criaram a “narrativa” que, apesar das exportações brasileiras de café em agosto último terem recuado 2 % em relação aos embarques de agosto de 2021, elas foram acima do esperado pelo mercado (na realidade, neste semestre, em condições climáticas normais, os embarques brasileiros estariam subindo sensivelmente, pois, na produção de arábica, 2022 deveria ter sido ano de safra alta). Também a chegada das chuvas nesta primeira quinzena de setembro, fracas e irregulares, sobre os cafezais do sudeste brasileiro, foi usada para pressionar as cotações. Essas chuvas, insuficientes, já cessaram, e a nova previsão é que só deverão retornar no decorrer de outubro próximo.
Os fundamentos continuam indicando um quadro difícil e preocupante para o abastecimento global de café. Já não existem dúvidas de que a quebra na safra brasileira de café 2022/2023 foi maior do que a inicialmente projetada por agrônomos, produtores e cooperativas. O lento movimento de chegada de lotes da nova safra aos armazéns é inédito. Os problemas climáticos se repetem em outros importantes países produtores na atual crise climática global.
Em entrevista, na quarta-feira, ao jornal Valor Econômico, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooxupé, maior cooperativa de café arábica do Brasil e do mundo, disse que, com a colheita de café próxima do fim, a Cooxupé revisou para baixo sua projeção de recebimento do grão neste ano. Agora, a cooperativa prevê que seus cooperados entregarão 4 milhões de sacas de café na temporada, volume 15% menor do que a estimativa, já preocupante, do início do ano. Segundo o presidente, a diminuição da colheita neste ano é consequência da quebra de safra causada pela geada que ocorreu em 2021, que afetou os cafezais do Centro-Sul do país, e das estiagens prolongadas. Melo disse ainda, que há risco de a próxima safra 2023 sofrer com a atual falta de chuvas, na época de florada das árvores. “Elas ainda não estão bem recuperadas para a próxima safra como esperávamos no início do ano”, disse. Ele acredita que a próxima colheita 2023 poderá ser melhor do que a de 2022, mas não uma “safra grande”.
Os estoques de café certificado na ICE, em Nova Iorque, caíram hoje 31.318 sacas. Estão em 532.448 sacas, um terço das 2.164.372 sacas existentes um ano atrás. Caíram neste período 1.631.924 sacas. Apenas neste mês de setembro, até o dia de hoje, 16, os estoques certificados já caíram 150.894 sacas.
A "Green Coffee Association" divulgou que os estoques americanos de café verde totalizaram 6.450.086 em 31 de agosto de 2022. Uma alta de 226.801 sacas em relação às 6.223.285 sacas existentes em julho de 2022.
As cotações do café na ICE em Nova Iorque não estão refletindo a realidade dos preços no mercado físico mundial. Cafés novos, no padrão exigido para serem certificados nessa bolsa, valem bem mais do que o cotado em seu pregão.
No mercado cambial brasileiro, o dólar trabalhou em alta frente ao real no decorrer da semana, acumulando alta de 2,17 %. Hoje subiu 0,38 % e fechou valendo R$ 5,2600. Na sexta-feira passada encerrou a semana a R$ 5,1480.
Em reais por saca, os contratos de café para dezembro próximo na ICE fecharam hoje a R$ 1 496,65. Na sexta-feira passada, dia 9, fecharam a R$ 1 556,03. Encerraram a sexta-feira anterior valendo R$ 1 569,58.
No mercado físico brasileiro, os compradores foram diminuindo as bases de preços ao longo da semana, acompanhando as quedas na ICE e o sobe e desce do dólar frente ao real. Os vendedores em sua grande maioria ficaram fora do mercado por toda a semana. As vendas concretizadas, foram com lotes de produtores que precisaram de “caixa” para cumprirem compromissos que estão vencendo. O total de vendas continua bem abaixo do usual para esta época de início de ano-safra.
O CECAFÉ – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil informou que no último mês de agosto foram embarcadas 2.761.643 sacas de 60 kg de café, aproximadamente 2 % ( 69.990 sacas) menos que no mesmo mês de 2021 e 10 % (244.975 sacas) mais que no último mês de julho. Foram 2.353.053 sacas de café arábica e 89.244 sacas de café conilon, totalizando 2.442.297 sacas de café verde, que somadas a 317.034 sacas de solúvel e 2.312 sacas de torrado, totalizaram 2.761.643 sacas exportadas em agosto último. As exportações brasileiras de café neste ano, de janeiro a agosto, totalizaram 25.275.637 sacas, 5,3 % menos que no mesmo período de 2021.
Até dia 16, os embarques de setembro estavam em 897.935 sacas de café arábica, 33.071 sacas de café conilon, mais 48.045 sacas de café solúvel, totalizando 979.051 sacas embarcadas, contra 695.779 sacas no mesmo dia de agosto. Até o mesmo dia 16 os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em setembro totalizavam 1.385.788 sacas, contra 1.123.254 sacas no mesmo dia do mês anterior.
A bolsa de Nova Iorque – ICE, do fechamento do dia 9, sexta-feira, até o fechamento de hoje, dia 16 caiu nos contratos para entrega em dezembro próximo 1340 pontos ou US$ 17,72 (R$ 93,23) por saca. Em reais, as cotações para entrega em dezembro próximo na ICE fecharam no dia 9 a R$ 1.556,03 por saca, e hoje sexta-feira dia 16 a R$ 1496,65. Hoje, nos contratos para entrega em dezembro a bolsa de Nova Iorque fechou em baixa de 130 pontos.
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