EL Niño, uma tragédia anunciada no mercado de café

Por José Roberto Marques da Costa

Em dia de fortíssimo volume de negócios em NY, os contratos de café arábica fecharam em queda nesta sexta-feira, perdendo 5,25 cents dos ganhos de quinta-feira influenciado " briga" dos investidores pelo vencimento das opções, na semana, julho teve alta em 10,35 cents e no mês a valorização chega a 12,00 cents.

Com forte volume de 90.089 lotes, que equivale a 25,5 milhões de sacas, devido ao vencimento das opções de julho, setembro teve queda de 3,70 cents, fechando a 185,65 cents, variando de 185,10 cents a 191,75 cents (maior nível em 50 dias), não tendo força para buscar o primeiro suporte do dia em 183,58 cents e a primeira resistência em 194,33 cents,  mas bem acima das importantes resistências das médias móveis dos 200 dias 180,50 cents e da Banda de Bollinger dos 50 dias em 182,40 cents. Os estoques de certificados diminuíram 1.842 sacas para 550.379 sacas para menor nível desde 23/11/2022

No curto prazo a atenção do mercado está voltada para as entradas das massas polares nas regiões de café e, no médio e longo prazo,  a grande preocupação do mercado será o efeito do El Niño na produção do arábica do próximo ano do Brasil, Colômbia e países da América Central. No café robusta o El Niño já está trazendo prejuízo da todos os setores, principalmente  forte impacto negativo na produção que está levando Londres a níveis acima de US$ 2.700 a tonelada, os maiores preços dos últimos 15 anos e tudo indica que deve buscar níveis bem maiores.

O pregão de quinta-feira, feriado no Brasil, foi um dos mais nervosos e agitados dos últimos anos influenciado pelo relatório do NOAA sobre início oficial do El Niño, com volume de mais de 80 mil lotes, assustando todos investidores, revelando informações preocupantes com o clima nas principais regiões mundiais de café criando um verdadeiro clima de "aversão ao risco" acionando cobertura dos grandes fundos de investimentos, os chamados "tubarões".

A forte cobertura de posições foi intensa levando julho sair facilmente da zona de conforto dos investidores de curto prazo entre os níveis de 177,00 cents a 188,00 cents que levou a entrar tecnicamente em canal de alta, chegando a romper por alguns instantes o nível 196,00 cents.  Na primeira parte do pregão, julho chegou a máxima de 196,60 cents, mas começou a influenciar a "briga" pelo vencimentos de opções, levando a volume de mais de 90 mil lotes, com a grande maiorias dos investidores querendo levar o julho próximo ao nível de 190,00 cents, prevalecendo a força da maioria (o mercado é soberano) fechando a 190,65 cents.

Vários artigos anteriores tenho alertado que o maior problema dos produtores brasileiros não está nas entradas das massas polares, que poderão trazer prejuízos localizados, mas o efeito catastrófico do El Niño, que tudo indica será intenso segundo a NOAA, pode ter efeito abrangente durante o segundo semestre deste ano trazendo grande risco para a produção do próximo ano que pode frustrar as expectativas de todos. O que está acontecendo com a produção mundial do robusta este ano e do próximo, poderá acontecer com a produção global do arábica em 2024 comprometendo todos setores.

O  EL Niño, pode ser uma tragédia anunciada no mercado de café arábica, a mesma tragédia que está  no café robusta. Peço a todos os produtor que estão em plena colheita de café, acompanhe atentamente a evolução do El Niño nos próximo meses e  que todas as decisões que tomarem não esqueçam da presença desse fenômeno climático que pode comprometer a próxima safra.     

O relatório da CFTC divulgado hoje, referente a 06 de maio, mostra  aumento das posições líquidas compradas e queda das posições vendidas dos grandes fundos , neste período a variação de julho passou de 177,10 cents a 182,60 cents, alta de 5,50 cents. Pelos dados divulgados mostra que os fundos aumentaram em 6.966 lotes ( + 87,11% ) suas posições liquidas compradas.  Os grandes fundos possuíam 14.962 posições líquidas compradas sendo 32.387 posições compradas e 17.425 posições vendidas, alta de 2.715 lotes de compradas e queda de 4.251 posições vendidas.

 A safra brasileira de café na temporada 2023/24 foi estimada pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) em 66,4 milhões de sacas, a safra arábica em 44,7 milhões de sacas e robusta em 21,7 milhões de sacas. As exportações deve crescer para 45,35 milhões de sacas e  consumo foi previsto em 22,56 milhões de sacas de café.

A estimativa da Conab e IBGE ante a da USDA divulgada desta semana, a diferença ultrapassa 10 milhões de sacas, número maior que a produção da Colômbia, que ainda não divulgou a produção e exportação de maio. O detalhe que chamou a atenção foi a estimativa de previsão das exportações brasileiras da safra 2023/24 em 44,7 milhões de sacas, um número não super mas hiper dimensionado.

 Pelos últimos dados do Cecafé, nos últimos 12 meses, o Brasil exportou 36,9 milhões de sacas e para conseguir chegar a estimativa da USDA, vai ter que importar 8 milhões de sacas, seguindo o mesmo caminho da Colômbia que deverá importar 5 milhões de sacas para cumprir seus compromissos. Mencionando a Colômbia, espero que a Federacafé,  não adote a mesma política da CGA, que não divulgar mais dos dados dos estoques dos EUA e da Conab que faz três anos que não revela os estoques de passagens.   

A Federação Europeia do Café informou que os estoques de café nos armazéns portuários da Europa registraram uma queda de 1,130 milhões de sacas, que representa  10,10% durante o mês de abril de 2023 em relação ao mesmo mês do ano anterior, totalizando 11.189.833 sacas em o fim do mês.  O consumo nos 27 países da UE é de cerca de 950.000 sacas de café por semana. Portanto, a primeira estimativa é que, até o final de abril de 2023, os estoques europeus de café possam estar em torno do consumo de quatorze semanas de demanda europeia por torrefação.

Historicamente, a variação dos estoques de café dos portos da Europa sempre acompanhou a variação dos estoques dos portos dos EUA, fazendo um comparação com os últimos dados da CGA de 6.016.272 sacas em março, pode-se concluir que os estoques de abril teve queda em trono 600 mil sacas. caindo para 5.408.862 sacas, alimentando os rumores de mercado de que a queda dos estoques nos portos americanos em abril foi mais de 500 mil sacas.

Robusta cai hoje em Londres, mas na semana valoriza 4,8% ( + US$ 121 )

Os contratos futuros de café teve queda nesta sexta-feira devido a perforamnce negativa dos contratos de arábica em NY,  na semana a valorização foi de 4,8% ( US$ 121 ) e no mês chega a US$ 172 a tonelada. Toda  atenção voltada no Vietnã, além da perdas de áreas para outras culturas, que está impressionando é a forte onda de calor nas regiões de café que permanece a várias semana comprometendo a produtividade da próxima safra produção de café  

Com volume de 29.351 lotes em Londres,  café robusta setembro recuou US$ 24 fechando a US$ 2.70 a tonelada, durante o pregão atingir um novo recorde em US$ 2.790, variando de US$ 2.653/t a US$ 2.790/t, ultrapassando a primeira resistência do dia em US$ 2.761/t e não teve força para buscar a segunda em US$ 2.797/t.

Os operadores disseram que, dada a extensão dos recentes ganhos do mercado, não surpreende que tenha havido uma retração influenciado pela retração do café arábica em NY. Eles observaram que os suprimentos estavam apertados com a produção na Indonésia abaixo das expectativas, enquanto um evento climático El Niño começa a reduzir a produção no Vietnã e da Índia..

O mercado de exportação de café do Vietnã continuou lento esta semana devido à oferta limitada de grãos, enquanto os preços permaneceram altos na Indonésia, já que os compradores lutavam pelos grãos, disseram traders na quinta-feira. “Os preços ainda estão subindo, mas os agricultores e muitos exportadores não se beneficiam muito com os altos preços, pois os agricultores já venderam todos os seus grãos, enquanto as preocupações com os altos custos financeiros impediram muitos negócios de estocar”, disse um trader do cinturão do café.

 Enquanto o grão de café robusta indonésio Sumatra foi oferecido com um prêmio de $ 270 para o contrato de setembro esta semana, inalterado em relação à semana anterior. “O preço continuou alto. É improvável que o preço caia no momento”, disse um trader da região. Outro trader também ofereceu um prêmio de US$ 365 para o contrato de agosto a novembro. “Os exportadores estão lutando por grãos devido à escassez de suprimentos”, disse o segundo trader. “Isso explica por que os preços locais estão subindo mais do que os preços globais.”

O Centro de Previsão do Clima, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, disse na quinta-feira que o padrão climático El Niño já está acontecendo, colocando em risco a produção de café, principalmente na Ásia. A várias semanas uma onda de calor provoca recordes diários de temperatura de todos os tempos registrados nas principais regiões nas regiões de café do Planalto Central ultrapassando a marca de  40°C.

Nesta semana a empresa estatal de energia do Vietnã pediu aos parques industriais perto de Hanói que reduzam o uso de eletricidade em 50%, já que as altas temperaturas causam quebra no fornecimento, levantando preocupações de apagões em larga escala.  A disponibilidade de energia hidrelétrica, principal fonte de eletricidade do norte do Vietnã, está baixa devido ao esgotamento dos recursos hídricos nas áreas montanhosas. 

O sul e o sudeste asiático foram particularmente atingidos por uma onda de calor muito persistente, com recordes de temperatura de todos os tempos registrados em países como o Vietnã  chegando nesta semana 44°C e a Tailândia a 45°C. Singapura tinha um recorde mais modesto que também foi batido, com temperaturas atingindo 37°C e Xangai, na China, registrou a temperatura mais alta em mais de um século no mês de maio atingindo 36,7°C.

Semana após semana, o aquecimento acima do normal das águas do Pacífico equatorial se expande para o oeste sobre a bacia, uma clara indicação de que o estabelecimento oficial do fenômeno El Niño é iminente. Graças aos avanços na compreensão e modelagem do fenômeno, a previsão melhorou em escalas de tempo de 1 a 9 meses de antecedência, ajudando a sociedade a se preparar para os perigos associados, como fortes chuvas, inundações e secas. A última previsão emitida pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) indica uma probabilidade de 96% para os próximos meses para a fase de El Niño, durando pelo menos até o próximo verão do Hemisfério Sul.

Outra questão importante a considerar é que há uma probabilidade de 56% de que o El Niño atinja uma categoria forte para o trimestre novembro-dezembro-janeiro, ou seja, anomalias da temperatura do mar na Região 3.4 ultrapassando o limite de 1,5°C. Se isso acontecesse, o impacto global poderia ser muito significativo. De acordo com o informado pela BBC Mundo, um estudo do Dartmouth College indica que o El Niño que está prestes a começar pode ter um custo global de cerca de 3,4 trilhões de dólares nos próximos cinco anos.

Ótimo final de semana a todos

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