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Só quando a maré baixa é que se sabe quem está nadando nu


 Por Felipe Robayo

Don Ernesto Garces, um dos maiores produtores de café da Colômbia, quando questionado se os preços iriam subir ou descer, respondeu brincando: “Ninguém sabe sobre café”.

Hoje o problema não tem nada a ver com prever o futuro, mas com explicar o passado. Analistas muito expressivos culparam a queda dos preços e a redução do prêmio do café colombiano, no lugar errado. O problema das críticas negativas é que sempre acabam doando o sofá da casa.

Um deles tem sido muito repetitivo ao apontar que o problema da queda do prêmio do café colombiano se deve ao aumento das importações de café de outras origens e à sua mistura no café que é exportado da Colômbia. Isto não é muito preciso.

O preço do café, não só o colombiano, tem caído desde os picos alcançados no ano passado. Os ciclos de preços das commodities são inevitáveis. Os preços do café nas bolsas de Nova York e Londres, que subiram em decorrência da geada no Brasil em 2021, vêm caindo, refletindo a recuperação da oferta daquele país. Com efeito, este ano (23/24) está prevista uma produção de 62 milhões de sacas de 60 kg e a produção brasileira do próximo ano (24/25) deverá ficar acima dos 70 milhões.

Por outro lado, a procura também foi afetada pelas quebras no consumo, fato amplamente documentado em relatórios recentes dos principais torrefadores mundiais. Quase todos mostram que se consome menos café.

Mas há outras explicações. Uma questão muito importante neste momento tem a ver com o aumento das taxas de juro nas economias de consumo, resultado da luta dos bancos centrais para controlar a inflação. O negócio do café é uma atividade financeira, a cadeia exige pagamentos a fornecedores, armazenamento de estoques, processamento do café e outras atividades que são feitas a crédito.

Desde 2008 a indústria, em todos os seus elos, tem sido financiada com dinheiro muito barato. Como resultado da crise financeira de 2008, foram concebidos vários programas destinados a fornecer liquidez ao mercado da era Obama e, mais tarde, os programas de frouxidão monetária da pandemia, constituíram o que os analistas americanos chamaram de “a era do dinheiro fácil”. A indústria cafeeira acabou se beneficiando desse dinheiro. Porém, em 2021 a festa acabou.

O aumento da inflação em 2021 (6,8% nos EUA) obrigou os bancos centrais a aumentarem as suas taxas de juro. Se Warren Buffett diz que só quando a maré baixa é que se sabe quem está nadando nu, no caso do café tanto os torrefadores quanto os importadores estavam nus. Quando os juros sobem, a indústria sente necessidade de se ajustar à nova realidade, reduzindo drasticamente seus estoques, ou seja, parando suas compras.

Da mesma forma, o comércio (importadores), que compra o café na origem e o vende aos torrefadores no destino, também foi obrigado a reduzir seus estoques. Os importadores não foram afetados apenas pelo aumento das taxas de juros, mas principalmente pelo fato de que em 2021 o mercado futuro foi invertido em decorrência da geada no Brasil.

Na verdade, os mercados de futuros “normais” têm uma curva ascendente, onde as posições futuras valem mais do que as posições recentes, pelo que o mercado reconhece o custo de transportar café para ser entregue no futuro.

O problema surge quando, em consequência de uma perturbação da oferta, como a de 2021, o mercado se inverte. Num mercado invertido, as posições futuras são mais baratas do que as posições à vista. O importador, que normalmente mantém estoques para poder oferecer aos torrefadores, começou a ver que seu estoque estava perdendo valor e que no futuro teria que vendê-lo por um preço ainda menor, com prejuízo.

Por esta razão, os importadores também foram obrigados a reduzir os seus stocks, comprando menos café. Tudo isto reforça a queda da procura e as suas consequências na redução dos preços.

Pensar que os preços caem devido a explicações locais é apenas um sintoma de quão provincianos somos. Os spreads do Brasil, Honduras, Guatemala, Peru estão sentindo os mesmos efeitos e os seus prêmios também caíram substancialmente.

Por fim, é importante compreender que na Colômbia a importação de cafés de outros países é consequência da liberação das exportações de cafés de qualidade inferior (pasillas), ocorrida a partir de 2016. Esta medida traz importantes benefícios econômicos aos produtores. As exportações da Colômbia aumentarão em mais de mil sacas como resultado desta mudança.

Mas sem dúvida o efeito maior foi o aumento do preço da pasilla. As pasillas, que representam 10% da produção de uma fazenda, eram vendidas a um preço 60% abaixo do preço internacional antes de 2016, agora os produtores as vendem por valor no mercado internacional.

As importações de café de outras origens são apenas a outra face da moeda de ter permitido a exportação de café de qualidade inferior, a medida obrigou a indústria torrefadora nacional a se abastecer no mercado internacional. O aumento das importações, no final das contas, nada mais reflete do que o sucesso da abertura do mercado de exportação para as pasillas da Colômbia.

Fonte: Portafolio

Comentarios

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Data: 27/08/2023 06:38 Nome do Usuário: Tiago romagnoli
Comentário: De modo geral pessoal investiu pouco em fertilizantes devido ao custo...café sentiu muito desfolhando quase total...muita gente arrancando e esqueletando....ano que vem não produz nem metade deste
Data: 24/08/2023 15:18 Nome do Usuário: Leonardo
Comentário: Sintetizando a respeito do mercado de café: QUER ERRAR É SÓ FALAR. Ouvi de um produtor que tinha 60 safras de café nas costas.E tem mais café só sobe com tragédia climatica; seca ou geada o resto....
Data: 24/08/2023 14:29 Nome do Usuário: Dyego Assis Teixeira
Comentário: Esse ano no Brasil tudo em crise. NÃO TEM UM SETOR DO AGRONEGÓCIO QUE TA INDO BEM.FAZ O L.
Data: 24/08/2023 11:20 Nome do Usuário: Marcelovprado1972@gmail.com
Comentário: Excelente comentário!!! Só uma coisa inexplicável: o Brasil colher 62 milhões esse ano e no próximo 70 milhões!!!!! Nunca chega a isso, basta visitar os setores produtivos!!!! Previsão da Faria Lima!
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    Safra 22/23 25% R$ 1240,00
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    Duro/Riado 30% R$ 1170,00
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  • Guaxupé
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    Safra 22/23 25% R$ 1240,00
    Duro/riado 25% R$ 1170,00
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