Tarifaço americano pode minar competitividade do agro brasileiro, diz CNA
A elevação das alíquotas americanas de importação sobre os produtos agrícolas "pode minar a competitividade do Brasil neste mercado, impactando os rendimentos do produtor", avalia a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em nota técnica. No caso dos sucos de laranja, por exemplo, a CNA destaca que os EUA contam com alguma produção no mercado doméstico, que seria muito favorecida em relação à alternativa brasileira.
A ordem executiva, apresentada pelo presidente Donald Trump nesta quarta-feira (2/4), definiu os produtos a serem sobretaxados e as alíquotas incidentes sobre cada país. No caso do Brasil, os bens importados contarão com uma alíquota adicional de 10% a partir deste sábado (5/4), salvo exceções para uma minoria de produtos como os artigos de madeira.
Antes do anúncio, os produtos do agronegócio brasileiro contavam com alíquotas nominais médias de 3,9% do valor do produto. Com o acréscimo linear, estas taxas passarão à 13,9%, afetando a competitividade de artigos brasileiros. Na avaliação da CNA, "apesar do acréscimo, o Brasil estará em uma posição melhor, se comparado aos casos em que os EUA importam produtos de mercados que contarão com taxas maiores", como é o caso dos bens da União Europeia que receberão sobretaxas de 20%.
Segundo a CNA, os EUA são o terceiro principal destino dos produtos do agronegócio brasileiro, atrás apenas da China e da União Europeia. Em 2024, o país recebeu 7,4% das exportações do setor, e 30% do total de exportações brasileiras, somando US$ 12,1 bilhões.
A entidade destaca que, nos últimos dez anos a participação americana como importador dos produtos brasileiros apresentou certa estabilidade e previsibilidade, sempre variando entre 6 e 7,5%. O principal produto do agro brasileiro destinado aos EUA é o café verde, com participação de 17%, e o suco de laranja.
A CNA avaliou que o sebo bovino, a madeira perfilada, carne bovina industrializada, outros produtos de origem animal e outras substâncias proteicas têm um grau de exposição crítico. Isso se deve pela avaliação de que um desvio é praticamente impossível, dado o alto grau de dependência do mercado americano, enquanto aqueles classificados.
Já outros produtos foram avaliados com um grau de exposição alto, ou seja, que encontrarão dificuldades para a absorção por outros mercados. São eles o óleo essencial de laranja, sucos de laranja, couros e peles de bovinos, café solúvel, café verde, álcool etílico, papel e celulose.
A nota técnica avalia que o principal risco aos produtos brasileiros são para aqueles que também são produzidos no país, como a carne bovina, o suco de laranja, o etanol e o óleo de soja.
Contudo, a CNA avalia que ainda é precipitado avaliar eventuais perdas e ganhos para o Brasil, “visto que a alteração tarifária afeta todos os países do mundo, inclusive grandes exportadores de produtos agropecuários”, e destaca que existe a possibilidade de implementação de novas tarifas caso os EUA avaliem que aquelas anunciadas não foram suficientes.
A entidade ainda afirma que cabe ao governo brasileiro seguir explorando a possibilidade de negociações com os EUA, e que medidas como a PL da Reciprocidade só devem ser utilizadas após o esgotamento de canais diplomáticos.