Procafé: mês de junho foi finalizado com intensa queda no mercado
Leia, na sequência, artigo de autoria de João Marcelo Oliuveira de Aguiar, analista e superintendente executivo da Fundação Procafé
No mês de junho/2025, na ICE Futures US (Bolsa de Nova Iorque), o café Arábica, que iniciou o mês com o fechamento do primeiro dia de negócios em 341,80 cents/lb, chegou a trocar de mãos na máxima de 372,45 cents/lb, para depois encerrar o mês com fechamento em 300,10 cents/lb, portanto, mais um mês de intensa queda.
Já na ICE Futures Europe (Bolsa de Londres), o Canephora (Robusta/Conilon), que iniciou o mês com o fechamento do primeiro dia de negócios em USD 4.405,00/ton, chegou a trocar de mãos na máxima de USD 4.597,00/ton, para depois encerrar o mês com fechamento em USD 3.620,00/ton, portanto, assim como para os Arábicas, mais um mês forte baixa. Os motivos desses movimentos e dessa volatilidade nas principais Bolsas de café do mundo com algumas perspectivas futuras, a seguir…
FATORES DE SUSTENTAÇÃO (ALTA)
No mês de junho/25, os dados do Relatório Mundial de Produção, Mercados e Comércio de café do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), pressionaram as cotações, tanto dos Arábicas quanto dos Canephoras, de modo mais acentuado do que no mês de maio/25 cuja correção negativa já havia sido intensa. E de modo similar ao mês anterior, foram poucos os fatores que de sustentação aos preços e, mesmo assim, sem forças para sobrepor os fatores baixistas.
Apesar do incremento apontado pelo USDA para o ciclo 2025/26, que culminará em um novo recorde de produção global de 178,680 milhões de sacas, há também uma previsão de recorde para o consumo que deve girar em torno de 169,363 milhões de sacas.
Embora o incremento no consumo global não seja tão expressivo quanto na produção, quando associado às importações globais, estimadas em 140,283 milhões de sacas, e às exportações, estimadas em 148,533 milhões de sacas, acabam resultando em estoques finais de 22,819 milhões de sacas para o ciclo 2025/26, ou seja, 13,47% do consumo global, um nível crítico e também insuficiente para, sequer, dois meses de consumo, o que tende a manter o mercado extremamente sensível a qualquer surto climático ou, até mesmo, a meras previsões tal como ocorreu ao final de junho, um mês marcado pela passagem de uma forte frente fria sobre grande parte das regiões produtoras de café Arábica do Brasil, o que levou as cotações do café, tanto na Ice Future US (NY) quanto na Ice Futures Europe (Londres) a oscilar fortemente ao final do mês. Apesar disso, a onda de frio ocasionou apenas algumas geadas pontuais em áreas de baixadas e de pouca intensidade, não passando de um susto.
Ainda com relação ao consumo, é preciso ponderar que a forte desvalorização das cotações deve não somente inibir uma elevação mais acentuada dos preços ao consumidor final, mas possivelmente retraí-los, o que pode impulsionar o crescimento do consumo de modo mais intenso.
Contudo, é preciso aguardar até que as recentes desvalorizações cheguem às prateleiras dos supermercados e cafeterias para, então, observar qual será a reação do consumidor final diante o recuo das cotações, em especial, dos Canephoras cujo recuo dos preços vem sendo mais expressivo e cujas indústrias tendem a aumentar o uso em seus blends reduzindo mais ainda seus preços finais, o que pode ser saudável para o mercado ao não deixar muito espaço para mudanças de hábito. Com o recuo dos preços, o consumo global volta a ser extremamente promissor.
Com relação às exportações globais, de acordo com a OIC (Organização Internacional do Café), em maio/25 foram exportadas 12,65 milhões de sacas contra 12,05 milhões de sacas exportadas no mesmo mês do ano anterior, ou seja, um incremento de 4,9%. Apesar disso, o volume de exportação acumulado no ciclo caiu -2,3%, somando 91,29 milhões de sacas arremetidas ao exterior entre out/24 a mai/25 contra 93,44 milhões de sacas exportadas no mesmo período de um ano anterior (out/23 a mai/24).
Ainda de acordo com a OIC, três em cada quatro regiões registraram expansão em suas exportações, com apenas a América do Sul apresentando retração. O mês de maio/25 foi o sétimo mês consecutivo de retração para a América do Sul, o que reduziu a participação da região no total das exportações para 32,3% em maio/25 ante uma representatividade de 45,6% no mês de maio/24. Essa retração, está diretamente ligada ao fluxo de exportações brasileiras que segue em declínio.
Conforme posto na Síntese do mês passado, de acordo com o Cecafé, o Brasil embarcou 2,963 milhões de sacas no mês de maio/25, volume que implica queda de 33,3% em relação aos 4,446 milhões exportados em maio/24. Entre janeiro e o fim de maio de 2025, os embarques brasileiros de café totalizaram 16,790 milhões de sacas, um declínio de 19,2% na comparação com os cinco primeiros meses do ano passado.
Segundo o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, “o recuo observado nas exportações do Brasil reflete à menor disponibilidade de café, principalmente da espécie Arábica, cuja colheita começou a ganhar corpo somente agora neste mês de junho, e o fato de nossos Canéforas (Conilon e Robusta) estarem menos competitivos, atualmente, em relação a outras origens produtoras, como Vietnã e Indonésia”.
Até 08/jul, o Cecafé ainda não publicou seu relatório mensal com os dados de exportações do mês de junho. Mas, de acordo com o Escritório Carvalhaes, “até o dia 04/jul, os embarques de junho/25 somavam 2.561.709 sacas embarcadas, contra 2.943.560 sacas no mesmo dia de maio/25. Até o mesmo dia 04/jul, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em junho/25 totalizavam 2.574.299 sacas contra 2.964.585 sacas no mesmo dia do mês anterior. Já os embarques de julho/25, até o dia 04/jul, totalizavam 90.983 sacas contra 215.563 sacas no mesmo dia de junho/25.
Até o mesmo dia 4/jul, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em julho/25 totalizavam 358.559 sacas, contra 440.385 sacas no mesmo dia de junho/25”. Apesar do leve aumento no número de negócios fechados com lotes da safra nova no mercado físico interno, a queda no fluxo de exportações reflete o quadro de escassez de curto prazo, a retranca de grande parte dos produtores que seguem relutantes em vender seus cafés nos novos níveis de preços após o forte recuo dos últimos dois meses e a postura menos agressiva da ponta compradora que começa a enxergar um cenário de abastecimento sem tanto risco para esse ano.
Se por um lado a queda do Dólar contra o Real tende a depreciar ainda mais os preços da saca no mercado físico interno, por outro tende a limitar as exportações, o que acaba servindo de suporte às cotações na principais Bolsas de café do mundo. Adicionalmente, no mês de junho, a desvalorização do US Dollar Index (índice do dólar americano que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de outras seis principais moedas mundiais) e do Dólar contra outras moedas emergentes também foi fator de alta para as cotações nas Bolsas visto que a perda de valor do Dólar tende a atrair comitentes compradores.
Porém, é válido ressaltar que nem mesmo a desvalorização da moeda norte americana foi capaz de atenuar o desabamento dos preços do café. Nada fora do normal uma vez que, as oscilações cambiais, apesar de impactarem diretamente nas cotações, raramente sobrepõe as novidades relacionadas aos fundamentos de oferta e demanda. No decorrer do ano de 2025, o Dólar contra o Real já apresenta uma desvalorização superior a 10% e o US Dollar Index, uma desvalorização que se aproxima de 10%.
Além disso, várias outras moedas, inclusive de países emergentes, vêm se fortalecendo frente a um enfraquecimento estrutural da moeda norte-americana diante perspectivas de corte dos juros nos EUA, elevação do déficit fiscal, perda de força do mercado consumidor americano e, ainda, incertezas da política tarifária dos EUA que reduzem o fator “porto seguro” que tradicionalmente sustenta o Dólar em momentos de aversão ao risco. De acordo com William Castro, estrategista-chefe da Avenue, o momento de reavaliação global de portfólios cambiais ajuda a impulsionar essa nova dinâmica.
William reforça que “tem uma realocação de capitais globais. Parte dos recursos que antes estavam muito alocados nos Estados Unidos saíram e buscam destinos como o Brasil, pela atratividade da taxa de juros, tamanho de mercado e fluxo comercial.”
Ele ainda explica que, mesmo que estruturalmente o Dólar continue sendo o principal ativo de reserva global, no curto prazo há espaço para um reequilíbrio, principalmente diante de um Federal Reserve mais cauteloso com os juros e de um crescimento econômico moderado nos EUA.
Segundo matéria publicada pela CNN Brasil no dia 25/junho, com base em um levantamento da Elos Ayta Consultoria, as moedas que mais se valorizaram frente ao dólar em 2025 são: Rússia (Rublo Russo -29,07%); Suécia (Coroa Sueca -13,60%); Brasil (Real – Ptax -11,28%); Suíça (Franco Suíço -10,99%); Noruega (Coroa Norueguesa -10,84%); Dinamarca (Coroa Dinamarquesa -10,45%); Zona do Euro (Euro -10,42%); Taiwan (Dólar Taiwanês -9,98%); US Dollar Index (DXY -9,77%); Inglaterra (Libra Esterlina -8,75%).
Esses dados comprovam que, de fato, o Dólar vem perdendo força a nível global no ano de 2025. No cenário nacional, a conjuntura econômica também vem contribuindo para a desvalorização do Dólar, diante a combinação de uma gama de fundamentos que favorece a valorização do Real contra a moeda norte-americana, tais como a alta dos juros que atualmente se encontram em 15% e acabam atraindo fluxo de investimentos externos, o que sustenta a valorização do Real.
Outro ponto a se atentar é a possibilidade de arrefecimento ou de escalada dos conflitos geopolíticos no Oriente Médio e na Ucrânia com a invasão da Rússia. Em conflitos geopolíticos como esses, é preciso cautela para se formar uma expectativa, pois, por mais que as avaliações se tornem cada vez mais amplas e apontem uma vantagem militar para Israel e para a Rússia, a conversão de ganhos militares táticos em sucesso estratégico depende de um acordo diplomático e é aí que mora o maior desafio.
Um arrefecimento dos conflitos poderia ocasionar um apetite ao risco maior por parte de investidores, o que geralmente é interessante para ativos de risco como o café. Já uma escalada dos conflitos tende a ocasionar maior aversão ao risco, o que nunca é interessante para ativos de risco tal como o café.
Conforme apontam os indicadores (Bandas de Bollinger, Indice de Força Relativa e Estocástico) no gráfico da primeira página, diante o reposicionamento dos fundos de investimentos e especuladores, com forte redução de sua carteira líquida comprada em Futuros na Ice Futures US (Bolsa de NY), o mercado novaiorquino já dá indícios de um mercado sobrevendido, isto é, que passou por um forte ou prolongado movimento de baixa e está próximo de uma correção técnica.
FATORES DE PRESSÃO (BAIXA)
No mês de junho/25, conforme posto logo acima, as cotações, tanto dos Arábicas quanto dos Canephoras foram fortemente pressionadas pelos dados do Relatório Mundial de Produção, Mercados e Comércio de café do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), que gerou um sentimento de que o atual quadro de extrema escassez está para ser amenizado diante uma safra global recorde amparada, em especial, pela produção recorde dos Canephoras (Robusta e Conilon).
No mês de maio/25 as cotações já haviam sido fortemente pressionadas pela revisão da Conab para a safra brasileira de 2025, que saiu de uma possível quebra de -4,4% para um possível incremento de 2,7%, com destaque para uma safra recorde dos Canephoras. Ainda no mês de maio/25, além da revisão da Conab, dados preliminares do USDA indicando incremento em outras importantes origens de Canephoras, tais como Vietnã, Indonésia e Uganda, pressionaram ainda mais os preços.
Para completar o viés de baixa do mês de maio/25, no mês de junho/25, as cotações despencaram diante os dados do Relatório Mundial de Produção, Mercados e Comércio de café do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), que apontam uma safra global recorde para o ciclo 2025/26. Em síntese, os principais pontos do relatório do USDA foram:
➢ Revisões para o ciclo 2024/25 (estimativas de jun/25 x estimativas de dez/24):
Produção 24/25 – 174,395 milhões de scs estimadas atualmente contra 174,855 anteriormente;
Consumo 24/25 – 166,515 milhões de scs estimadas atualmente contra 168,071 anteriormente;
Estoques finais 24/25 – 21,752 milhões de scs estimadas atualmente contra 20,867 anteriormente;
Estoque final percentual frente ao consumo: 13,06% atualmente contra 12,42% anteriormente.
Apesar da leve revisão negativa para produção, houve uma revisão negativa mais acentuada para o consumo. Quanto aos estoques, apesar de uma revisão altista, os níveis dos estoques finais contra o consumo, de 13,06%, ainda são considerados críticos e insuficientes para, sequer, dois meses de consumo.
➢ Projeções para o ciclo 2025/26 (estimativas ciclo global 25/26 x ciclo global 24/25):
Produção – (178,680 milhões de scs 25/26) contra (174,395 milhões de scs 24/25);
Consumo – (169,363 milhões de scs 25/26) contra (166,515 milhões de scs 24/25);
Estoques finais – (22,819 milhões de scs 25/26) contra (21,752 milhões de scs 24/25);
Estoque percentual frente ao consumo: (13,47% ciclo 25/26) contra (13,06% ciclo 24/25).
A ligeira quebra na produção global dos Arábicas (de 98,692 milhões de scs p/ 97,022 milhões de scs) será compensada por um recorde na produção global dos Canephoras (de 75,703 milhões de scs p/ 81,658 milhões de scs).
A produção global dos Canephoras segue se aproximando cada vez mais da produção global dos Arábicas, atualmente, 46% de Canephoras contra 54% de Canephoras. Neste cenário, apesar da queda das cotações em ambas as Bolsas (Londres para os Canephoras e NY para os Arábicas), é possível observar um reajuste no diferencial dos preços da Bolsa de Londres para a Bolsa de NY, com uma perda de valor mais acentuada nos Canephoras do que nos Arábicas, o que deve levar as indústrias a migrar seus blends para um percentual maior de Canephoras.
Já de um modo geral, a produção global de café para o ciclo 2025/26 deverá exceder a safra 2024/25 em 4,285 milhões de sacas, ocasionando um novo recorde global de produção: 178,680 milhões de sacas. A recuperação dos níveis de produção do Vietnã e da Indonésia somados a uma safra recorde da Etiópia, compensam as perdas no Brasil e na Colômbia.
O destaque vai para o incremento na produção de Canephoras dos quatro maiores produtores globais desta espécie, Vietnã (+7,14%), Brasil (+14,76%), Indonésia (+5,38%) e Uganda (+2,56%). Com relação aos Arábicas, o destaque vai para a recuperação contínua dos níveis de produção da Etiópia, culminando em uma safra recorde de 11,56 milhões de sacas e para a quebra de produção no Brasil (-6,41%) e na Colômbia (-5,30%). Com relação ao consumo global, também há previsão de um novo recorde: 169,363 milhões de sacas.
Apesar do incremento mais exponencial na produção do que no consumo, com as importações globais previstas em 140,283 milhões de sacas e as exportações em 148,533 milhões de sacas, os estoques finais para o ciclo 2025/26, devem permanecer em 22,819 milhões de sacas, um nível crítico e também insuficiente para, sequer, dois meses de consumo, o que tende a manter o mercado extremamente sensível a qualquer surto climático.
Após o susto ao final do mês de junho com a onda de frio que ocasionou algumas geadas pontuais e de pouca intensidade em algumas áreas de baixadas, o clima no Brasil, segue em condições favoráveis para uma boa produção no ano de 2026. De acordo com a Rural Clima, para o mês de julho/25, ao menos até o momento, não há previsão de frio mais intenso com possibilidade de geadas nas regiões cafeeiras do país.
Já para o mês de agosto/25, a Rural Clima aponta possibilidade de chuva para a primeira semana do mês com frio de maior intensidade na segunda semana do mês. De acordo com uma nova atualização da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA), publicada em 12/junho, não houve alterações significativas no padrão climático e a tendência de neutralidade permanece estável.
Para os próximos meses, durante o inverno e a primavera do Hemisfério Sul, as chances do fenômeno El Niño permanecer em condição neutra superam 50%. Já para o período entre outubro e janeiro, as probabilidades estão divididas entre 48% de manutenção da neutralidade e 41% de ocorrência de La Niña, porém com níveis baixos de acurácia e confiança nas previsões para esse horizonte. A ausência do El Niño e do La Niña geralmente implica em uma melhor perspectiva de safra. O clima também vem contribuindo para o bom andamento dos trabalhos de colheita, que seguem adiantados quando comparados com os últimos cinco anos.
Dados da Safras & Mercado, apontam que até o dia 25/junho, 60% da safra 25/26 já havia sido colhida, acima do percentual de 58% registrado no mesmo período do ano passado e superior à média dos últimos cinco anos (2020-2025), registrada em 54% para este mesmo período. Destes percentuais, até o dia 25/junho, 77% da safra de Canephoras já havia sido colhida, acima do percentual de 76% registrado no mesmo período do ano passado e superior à média dos últimos cinco anos (2020-2025), registrada em 72% para este mesmo período.
Já os Arábicas, a Safras e Mercado indica que até o dia 25/junho, 50% da safra já havia sido colhida, percentual idêntico ao registrado no mesmo período do ano passado e superior à média dos últimos cinco anos (2020-2025), registrada em 44% para este mesmo período. Logicamente, quanto mais os cafés brasileiros de safra nova se aproximam do mercado, maior pressão sofrem os preços, ainda mais em um momento de demanda menos aquecida diante período de verão no hemisfério norte.
Apesar do forte recuo dos preços nos últimos dois meses, os preços ainda seguem acima da média móvel dos últimos cinco anos e bem acima do patamar de um ano atrás. Apenas para se ter melhor noção, no último dia do mês de junho/24 um café B/C, bebida dura p/ melhor, tipo 6/7 estava girando em torno de R$ 1.380,00/sc, enquanto o mesmo padrão de café, no último dia do mês de junho/25 encontrava-se em R$ 1.830,00/sc e hoje (08/jul) em R$ 1.650,00. Já o I-CIP, que é o indicador de preços composto da OIC (Organização Internacional do Café), apresentou queda de 11,77% em junho/25, atingindo a média de 295,06 cents/lb contra 334,41 cents/lb do mês de maio/25.
Esta é a primeira vez desde dezembro/24 que o I-CIP ficou abaixo da marca de 300,00 cents/lb, oscilando entre 267,02 cents/lb e 317,41 cents/lb. Ainda assim, o I-CIP de junho/25 está 30,1% acima do I-CIP de junho/24, com a média móvel de 12 meses em 294,39 cents/lb.
No mercado físico interno, aliada à queda das cotações nas principais Bolsas de café do mundo, a forte desvalorização do Dólar contra o Real, que saiu dos níveis de R$ 5,70 para R$ 5,45, pressionou ainda mais os preços que apresentaram uma desvalorização de aproximadamente R$ 500,00/sc no decorrer do mês de junho/25.
É importante ressaltar que esse cenário de valorização do Real contra o Dólar pode se inverter rapidamente com um aumento da incerteza fiscal diante uma trajetória insustentável da dívida pública que demanda reformas urgentes e abruptas.
Ademais, merece destaque também, o fato de que apesar da balança comercial apresentar superávit de US$ 5,9 bilhões no mês de junho/25, houve uma queda de 6,9% no saldo positivo na comparação com o mesmo mês de 2024 (+US$ 6,32 bilhões), sendo esse o pior resultado para meses de junho desde 2019, quando foi contabilizado um superávit comercial de US$ 4,36 bilhões. Este resultado ocorre em meio ao tarifaço imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o que impactou a relação comercial entre Brasil e EUA que no mês de junho/25 foi marcada por um déficit de US$ 595 milhões, o que significa que o Brasil mais importou do que exportou para a economia norte-americana.
Além disso, com a proximidade dos cafés brasileiros de safra nova ao mercado, o diferencial de base, vem, a cada semana, se alargando (desvalorizando) mais, o que também contribui para a depreciação dos preços do café no mercado interno. Para se ter melhor noção do enfraquecimento no diferencial de base (FOB Santo x Ice Futures US), um Fine Cup, tipo 2/3, pen. 17/18 que ao final do mês de abril estava em +25,00 cents/lb e ao final do mês de maio em +8,00 cents/lb, atualmente encontra-se em -2,00 cents/lb.
Por fim, pressionando fortemente as cotações nas Bolsas, o reposicionamento da carteira dos fundos de investimentos e especuladores que chegaram a ter um saldo líquido comprado em Futuros acima de 75.000 contratos na Ice Futures US (Bolsa de NY) no início do ano e atualmente possuem um saldo líquido comprado próximo de 30.000 contratos conforme reportado pela CFTC (Comissão de Negociação de Contratos Futuros de Commodities dos EUA) em seu último relatório semanal (Commitments of Traders) publicado.
MENSAGEM AOS CAFEICULTORES
“No Brasil, em especial para os Arábicas, ao inserir na balança os atuais níveis de estoques somados à atual safra menos os números de consumo interno e de exportações, é totalmente visível o fato de que o primeiro semestre de 2026 será de escassez com estoques bem curtos. Apesar disso, é preciso ponderar e se atentar ao fato de que no primeiro semestre de 2026, muito provavelmente, as principais Bolsas de café do mundo deverão estar com foco total no potencial produtivo de 2026, incorporando/precificando de modo mais efetivo a safra de 2026. E, se o clima seguir colaborando para uma boa safra em 2026, certamente a possibilidade de voos mais altos para os preços no primeiro semestre de 2026 tende a ser limitada mesmo diante uma oferta apertada que vem se desenhando aqui no Brasil para o final do ciclo 2025/26.
Desta forma, de um modo geral, no momento, o produtor deve se atentar ao fato de que o sentimento dos players de mercado de escassez realmente deu lugar a um sentimento de sobra diante os números do USDA que apontam um superávit de 9,317 milhões de sacas somados a um clima, até então, favorável a uma boa safra 2026, o que justifica o tombo nas cotações internacionais. Ainda assim, os atuais níveis preços seguem acima da média dos últimos 5 anos e, até mesmo, superiores aos níveis de um ano atrás.
Como posto no decorrer da Síntese, no último dia do mês de junho/24 um café B/C, bebida dura p/ melhor, tipo 6/7 estava girando em torno de R$ 1.380,00/sc, enquanto o mesmo padrão de café, no último dia do mês de junho/25 encontrava-se em R$ 1.830,00/sc e, hoje (08/jul) em R$ 1.650,00/sc.
Assim sendo, para montar sua estratégia comercial, o produtor deve manter o foco em sua pretensão de margem (lucro), considerando seu custo de produção e, também, os atuais níveis de juros no Brasil, além de se atentar a um ou outro repique que possa vir a ocorrer diante a sensibilidade do mercado com as questões climáticas ou, até mesmo, diante os sinais de um mercado sobrevendido e próximo uma correção técnica.”