Mercado continua sem forças para voltar a testar níveis acima de 300 centavos
Por Joseph Reiner
O mercado fechou sexta-feira em 286,50 centavos, base Setembro, contra quinta-feira retrasada em 289.60 centavos. Continuou sem forças para voltar a testar níveis acima de 300 centavos, mas também criou um relativo bom suporte perto dos 285 centavos.
Ainda acredito que iremos testar os 304 centavos no curto prazo. Na sexta-feira observamos alguma ação de Fundos e Indústrias após toda a situação tarifária pendente sobre o Brasil. Os certificados tiveram uma leve queda, fechando abaixo das 830 mil sacas.
No macro, todos já sabem. A notícia da semana foi a decisão do Governo Americano de impor 50% de tarifas nas exportações brasileiras a partir do início de Agosto. Do ponto de vista comercial, não faz o mínimo sentido, já que a balança comercial entre os dois países é favorável aos EUA. Então a motivação passa a ser financeira e politica.
Financeira, pois um dos motivadores da reclamatória americana, é a constante ingerência do Brasil na liberdade de expressão das redes sociais. As big techs que controlam as mídias sociais são americanas, entre elas duas em que as organizações Trump tem aplicações.
O Brasil não é o único alvo. A Europa também está sendo acusada de excesso de regulamentação nas empresas de mídia social. Politicamente, a Casa Branca deu vários avisos para que países (ie BRICS) não trabalhassem contra o Dólar. Lula continuou insistindo no tema, sendo o porta voz desta posição várias vezes, culminando na última reunião dos BRICS. Uma imbecilidade!!
Estamos a quilômetros de distância de termos qualquer moeda e/ou meio transacional que substitua o Dólar no médio prazo. Há vários anos, o Dólar já vem perdendo espaço nas transações multilaterais, e Lula insistindo no tema, não faz e não fará a mínima diferença.
Aí você soma à tudo isto, também a retórica terceiro-mundista do Lula/PT que o “Norte“ é o grande demônio do planeta, que Israel (aliado dos EUA) é genocida, Alckmin no Irã, Cristina libre… e por aí vão dezenas de cutucadas…
Achar que Trump tem alguma grande preocupação com Bolsonaro, também não é uma realidade… Trump só se preocupa com Trump e seus interesses e quer se manter o líder da Direita Mundial.
A questão do processo contra Bolsonaro, que Trump indica como “caça as bruxas“, é somente um veículo para atacar o STF e Lula. É uma bandeira de Trump. Continuar marcando que ele foi também vitima de “caça as bruxas“.
Nesta semana ele também atacou o judiciário israelense na “caça às bruxas“ sobre Netanyahu, inclusive ameaçando corte da ajuda militar se o país condenar o Primeiro Ministro Israelense.
Como sempre, Trump deixou a porta aberta para negociação, porém o Brasil precisa tomar cuidado e ter a astúcia diplomática que até agora não teve.
Quando Trump impôs o limite de 90 dias de extensão para começar a implementar globalmente as tarifas, ele também prometeu que neste prazo 90 negociações seriam fechadas. Até agora, com o prazo finalizado, ele conseguiu meia negociação… com a Inglaterra, e mesmo assim, somente sobre alguns produtos.
Até o Vietnã, que em teoria teria fechado acordo, já não fechou. Segundo autoridades Vietnamitas, as negociações entre as partes teria sido de tarifas de 11% e a contra partida de abertura total do mercado vietnamita a produtos americanos. Na ligação final entre Trump e o Premier Vietnamita. (ligação protocolar apenas para selar o acordo) Trump jogou para 20% as tarifas no meio da ligação… a negociação voltou à estaca zero!…
Trump também anunciou 35% no Canadá para produtos fora do acordo comercial, e 30% para México e EEUU que ainda não mostram pressa em fechar um acordo. Isto é um Trump frustrado. O Brasil, não sendo um parceiro comercial de importância pode pagar o preço de “servir de exemplo“ que Trump não está brincando e acaba recuando na “hora H“. Tipo: ”viu o que eu fiz com o Brasil???? Vocês serão os próximos!!”
A chance do STF simplesmente livrar Bolsonaro é zero. De retirar todas as restrições impostas nas redes sociais também é quase zero. Não sei o que sobra para negociar do ponto de vista do QI de ameba da esquerda brasileira, e pior, se Lula resolver tomar uma e bancar o durão e aplicar a reciprocidade… é capaz de tomarmos mais 50%. Não duvidem! Não somos a China!
Se por trás desta malfadada carta de Trump existe alguma estratégia, ele deveria de alguma forma dar os louros de uma negociação a algum candidato da Direita (ie Tarcisio).
Internamente aconteceu mais ou menos o óbvio. Dólar em alta e Bolsa em queda. Politicamente, Trump deu um presente a Lula. O “nós contra eles“ turbinou!!!
Um governo medíocre e morimbundo achou uma nova bandeira: Patriotismo, soberania, direita traidora do país, etc, etc… ao longo do tempo, quanto isto vai refletir no alto custo dos alimentos, aumento da energia elétrica, juros estratosféricos, possível desemprego em indústrias afetadas, etc, etc… veremos se o “nós contra eles“ vai resolver.
Qualquer mudança significativa nas chances de vitória de Lula ano que vem vai ter impacto no Dólar agora. Estávamos observando já uma certa precificacao no Dólar contando com derrota de Lula ano que vem… agora demos sobrevida ao morimbundo… tudo isto também ofusca a discussão em cima do IOF. Neste dia 15, não duvide se o Congresso voltar atrás e liberar algum aumento de imposto. Mais um fator de suporte do Dólar.
Todos vocês já leram quais principais segmentos serão afetados caso a tarifa geral de 50% realmente aconteça: ● Industria de Petróleo/oleo/lubrificantes; ● Ferro e Aço; ● Indústria aeronáutica; ● Agro. E ai outro problema…
Trump prejudica mais o setor do Agro, onde a direita no Brasil tem mais apoio. Setores como suco de laranja, celulose, proteína, açúcar e álcool, café serão afetados em diferentes formas.
No caso do Café, para mim fica claro que no momento, quem vai pagar a conta é o consumidor americano. Também fica claro que não tem como os EUA ficarem sem o café brasileiro. Tudo bem… um pouco menos de 30% do consumo pode ter 50% de aumento, porém a Indonésia está tomando 32%, o Vietnã até o momento, 20%, Nicarágua 18%, Colômbia/outros Centrais/África ainda não está claro, mas vão ficar pelo menos nos 10%.
Ou seja, por mais que você tente mexer no blend, mudar origens, não tem como o consumidor de lá fugir de um impacto de aumento, e não tem como o americano ficar sem o café do Brasil.
O fluxo pode diminuir um pouco no começo, e depois vai resumir normalmente. Isto sem contar que, com certeza, outras origens vão ajustar seus diferenciais para que fiquem o mais próximo possível de um spread mínimo para o diferencial brasileiro, mesmo porque no momento não existem estoques sobrando no mundo para qualquer grande mudança.
Mesmo os certificados, em que sua grande maioria está sentada em portos Europeus… seria considerado transbordo? Fica sujeito a tributação como produto europeu?… o consumidor americano no curto prazo não tem para onde correr. Vai pagar mais caro seu café. A demanda, a dinâmica do varejo americano não é assim tão diferente como aqui: muito competitiva.
Quem trabalha com varejo sabe como é uma batalha de tentar passar uma nova listagem de preços. A grande maioria doas torrefações de lá, já haviam colocado listagens que refletissem os picos de preços, e iam ajustando novos preços via ações promocionais, alguma mudança de blends, corte de custos, etc, etc…
Bom… o que vai acontecer é difícil de prever antes do inicio de Agosto, mas não vejo nenhum cenário em que não tenhamos aumento de preços na gôndola americana com tarifas.
Nas cafeterias o mesmo cenário, só que o impacto pode ser menor. Nos preços de cápsulas o impacto de preços pode ser também menor.
Caso as tarifas vinguem, a reação deve ser rápida nos aumentos… e ai esperar é a florada brasileira. Atento que, se o terceiro maior mercado mundial existem dados que o consumo caiu em ate 5%, e que o segundo maior dados indicam (pelo menos no varejo) um consumo estagnado, os números do Rabobank podem estar certos, e que o consumo global cai em 0,5%. Este um possível cenário de curto prazo.
No medio longo prazo, em um cenário de consumo estagnado e o Brasil tiver uma safra grande ano que vem, parte da conta pode voltar para o produtor pagar. O ajuste dos fluxos globais não são tão rápidos. Não vai ser amanhã que vamos achar um lar diferente para 7 ou 8 milhões de sacas.
No Robusta o desequilíbrio pode ser ainda maior.
Com certeza, muitas cabeças já estão pensando em como burlar o sistema. Argentina, Paraguay e Uruguay em teoria, têm chances de se tornarem grande exportadores de café. Não é assim tão difícil para o departamento de comercial americano classificar isto de transbordo e aplicar sanções aos países e exportadores.
Será que estes países vão querer assumir este risco, se no final tiverem em geral tarifas bem menores que o Brasil… principalmente a Argentina, que segundo fontes locais, tem chance de finalizar um acordo em que 80% de seus produtos tenham tarifa zero!… Já para o industrializado, a coisa fica mais cinzenta… produzir solúvel na Argentina, com café brasileiro, e exportar para o EUA seria transbordo??
Aliás; novamente Milei da um baile em Lula na questão diplomática…Enquanto continua a vender seus produtos para a China e não recusar investimentos, negocia secretamente com o Reino Unido e EUA e re-equipamento de suas Forças Armadas e um ótimo acordo comercial.
Bom pessoal. Esta situação é ruim para o Brasil, pior para o Agro e ruim também para o consumidor americano. O jogo político de Lula pode não passar por querer negociar. Incerteza total. Na incerteza total.. Dólar suportado novamente aos níveis de R$5,50.
NY… curto prazo ainda acredito testando os níveis de 304, e uma resistência acima, podendo ir acima dos 310. Ainda assim, volumes módicos.
Por trás de todo o barulho, continuamos a colher uma safra muito irregular, os estoques continuam baixos, e florada Brasil vai ser o determinante do mercado. O resto é volatilidade!!
Tarifas podem ser altistas desde que o consumo não sofra.