Ausência do setor cafeeiro nas análises sobre taxações dos EUA
Leia, na sequência, artigo de autoria de Silas Brasileiro, presidente do CNC (Conselho Nacional do Café).
O Conselho Nacional do Café (CNC), entidade representativa da cafeicultura brasileira, vem respeitosamente manifestar sua preocupação diante da ausência do setor cafeeiro na pauta da reunião convocada para esta data, às 14 horas, bem como na recente coletiva concedida pelo Vice-Presidente e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
O Brasil mantém sua posição como o maior produtor e exportador de café do mundo, com 17 estados produtores, presente em 1.983 municípios, 6 biomas diferentes e é um dos grandes pilares sociais e econômicos do país. Com um total de 330 mil cafeicultores, dos quais 254 mil são pequenos produtores, a cadeia produtiva do café gera aproximadamente 8,4 milhões de empregos diretos e indiretos, abrangendo desde a produção nas lavouras até a industrialização e exportação do produto. Além de seu impacto econômico, a cafeicultura desempenha um papel fundamental no desenvolvimento regional, promovendo inclusão social, geração de renda e fortalecimento dos pequenos e médios produtores. Onde a cafeicultura está instalada, o índice de desenvolvimento humano (IDH) é patentemente maior.
Não é por demais lembrar que além do aspecto ambiental, a produção de café no Brasil também tem um forte compromisso com a sustentabilidade social, já que os direitos trabalhistas no país garantem proteção e segurança aos trabalhadores e trabalhadoras. Eles abrangem questões como salário mínimo, jornada de trabalho, férias remuneradas, décimo terceiro salário, descanso semanal, licenças maternidade e paternidade, seguro-desemprego, entre outros. Cabe ressaltar que a proteção à saúde do trabalhador também é promovida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo o país o único no mundo a disponibilizar esse serviço de forma pública e gratuita.
Portanto, além do produtor, toda uma cadeia será afetada por essa taxação: as cooperativas, as indústrias, os fornecedores de insumos, os prestadores de serviço, os exportadores. Estamos falando de um setor que movimenta bilhões e que é responsável por parcela significativa da balança comercial do país.
Em 2025, com base nas projeções do Ministério da Agricultura, a cafeicultura ocupará a quarta colocação no ranking geral, alcançando R$ 124.2 bilhões, o que representa 8,82% do VBP total do país.
Além de seu papel econômico, o café tem forte impacto ambiental positivo, sendo cultivado em áreas com cobertura vegetal nativa preservada e com crescente adoção de práticas sustentáveis e regenerativas. É também uma cultura essencial para o equilíbrio social em diversas regiões, especialmente nas mais vulneráveis.
Por essas razões, a ausência de menções à cafeicultura em espaços de diálogo e formulação de políticas públicas nos preocupa, por transmitir ao setor um sentimento de distanciamento em relação às decisões estratégicas do Governo Federal.
Apesar disso, o CNC reitera seu compromisso com o diálogo e a construção conjunta de soluções para o fortalecimento da agricultura nacional. Permanecemos à disposição do Ministério da Agricultura e Pecuária para contribuir de forma técnica e propositiva, com responsabilidade e espírito de cooperação.
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Tarifas sobre o café brasileiro anunciadas pelos Estados Unidos preocupam, num primeiro momento, o setor cafeeiro
Temos acompanhado atentamente a reação de outros segmentos do agronegócio, especialmente aqueles diretamente impactados, como a cafeicultura brasileira. O recente anúncio de aumento das tarifas por parte do governo americano atinge toda a cadeia produtiva do café no Brasil e impõe custos adicionais ao consumidor norte-americano, com reflexos inflacionários que afetam diretamente o poder de compra da população dos Estados Unidos.
Avaliamos ainda o impacto no cotidiano dos consumidores americanos, que têm no café um hábito consolidado, seja no café da manhã em suas residências, seja ao longo do dia nos escritórios e locais de trabalho. A expectativa é de que esse costume, de tomar várias xícaras de café ao longo do dia, seja mantido.
O governo brasileiro tem se mostrado disposto a negociar, o que consideramos uma saída inteligente e necessária, pois contribui para dar estabilidade e tranquilidade ao mercado nesse momento de incertezas.
O que nos chama atenção é que a taxação do café brasileiro é diferente. Se não for imposta sobre os demais exportadores de café para o mercado americano no mesmo percentual – muito embora sendo nós os maiores – o conjunto de pequenos países produtores poderá sim trazer algumas consequências.
Seguiremos acompanhando de perto as discussões que estão sendo conduzidas pelo governo brasileiro e, em especial, pelo senhor Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, somente após suas conclusões, estaremos prontos para intensificar o trabalho de expansão em novos mercados e outros consumidores já tradicionais, especialmente naqueles com economias sólidas e populações que já apreciam o café brasileiro. Nosso produto, além do sabor reconhecido mundialmente, também cumpre com excelência todos os princípios da sustentabilidade, tanto social quanto ambiental.