Setor cafeeiro realiza reuniões sobre tarifaço, EUDR e governança internacional
Durante a semana que se encerra, o setor cafeeiro brasileiro esteve mobilizado em três importantes reuniões híbridas (presenciais e on-line) com organizações nacionais e internacionais – das quais o Conselho Nacional do Café (CNC) participou com seus representantes – visando direcionar os próximos passos da cadeia produtiva do café do Brasil. Diante dos cenários atuais de tarifas dos Estados Unidos, mudanças nas normas ambientais para compra do café e governança do café no cenário internacional, os encontros abordaram temas como o diálogo no Comitê Conjunto da Organização Internacional do Café; adequação do Brasil ao regulamento da União Europeia sobre produtos livres de desmatamento (EUDR) e as alternativas para enfrentar o “tarifaço”.
Na quarta reunião do Comitê Conjunto da Organização Internacional do Café (OIC) realizada nesta terça-feira (19), a pauta – iniciada desde junho – contemplou o acompanhamento das iniciativas em andamento para o biênio 2024/2025 e os procedimentos para apresentação de novas propostas de iniciativas da OIC.
Presidida por Zoltan Agai, representante da União Europeia, a reunião teve a participação da diretora executiva da OIC, Vanusia Nogueira, da chefe de operações da entidade, Hannelore Beerlandt, além de Veronica Otelli e Ariana Ocampo, também da OIC.
O Brasil marcou presença de forma ativa por meio da Rebraslon (Representação Permanente do Brasil junto aos Organismos Internacionais em Londres), representada competentemente pelo embaixador José Augusto Silveira de Andrade, por Antônio Carlos Galvão França e por Fernanda Medeiros. Também participou o Conselho Nacional do Café, representado pelo presidente Silas Brasileiro.
Entre os países membros exportadores, estiveram presentes delegações do Brasil, da Colômbia — representada pelo diretor da Federação Nacional de Cafeicultores, Juan Mesa que apresentou seu posicionamento em relação às iniciativas da OIC, contribuindo com recomendações e observações sobre os relatórios obrigatórios e as propostas em discussão no âmbito da entidade —, de El Salvador, representado pelo embaixador Mauricio Sansivirini da PROMECAFE, que abonou o posicionamento do Brasil com relação as pautas apresentadas, além de representantes da Indonésia, Nepal, Togo e Filipinas.
Já entre os membros importadores, participaram a União Europeia, representada pelo delegado Zoltan Agai, e a Itália, pelo delegado Max Fabian.
“O Brasil tem se posicionado de forma propositiva, apresentando sugestões e colaborando para a construção de soluções que garantam maior eficiência e representatividade às ações da OIC”, destacou o Presidente do CNC, Silas Brasileiro.
Os Delegados, representantes dos países exportadores e importadores, discutiram as propostas da OIC que sugerem incluir o georreferenciamento das plantações de café nos Certificados de Origem; Estudos sobre a resiliência do café às mudanças climáticas, além de procedimentos para submissão e avaliação de outras propostas de iniciativas da OIC para o próximo ano e outros assuntos, no entanto, não houve consenso.
A próxima reunião do Comitê Conjunto está prevista para 15 de setembro, em preparação para a 140ª Sessão do Conselho da OIC, que será realizada em outubro, em Honduras.
O “2º Encontro do Grupo de Trabalho (GT) – O café brasileiro e o regulamento da União Europeia sobre produtos livres de desmatamento”, também ocorreu na terça-feira (19). Na oportunidade, foram apresentadas duas plataformas – em andamento – para auxiliar e credenciar os produtores brasileiros frente à EUDR. O CNC foi representado pelo consultor da entidade Argileu Martins.
O biólogo e servidor do Instituto Estadual de Florestas (IEF/MG), Thiago Gelape, responsável pelo Cadastro Ambiental Rural de Minas Gerais e um dos construtores do Selo Verde MG, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, mostrou a plataforma com uso do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite e sistemas próprios de verificação in loco.
“A equipe do Selo Verde MG relatou que tem dialogado com representantes europeus sobre a EUDR e destacou a necessidade de uma plataforma brasileira, compatível com a legislação nacional para ser utilizada para a conferência de desmatamento em nosso país”, explica Silas Brasileiro, presidente do CNC.
No encontro, Lara Sousa, representando o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apresentou aos participantes a Plataforma Agro Brasil + Sustentável, que integra dados oficiais de instituições governamentais, organizados de forma rastreável e confiável sobre a produção agropecuária, credibilizada pelo Governo Federal via Mapa e em conformidade com quesitos ambientais e sociais, interligando inclusive Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e ao Ministério do Trabalho e Emprego.
O grupo também se dividiu para discutir quatro eixos: 1 – Questões ambientais e desmatamento; 2 – Questões sociais, trabalhistas e de direitos humanos na cadeia do café; 3 – Rastreabilidade e transparência na cadeia; e 4 – Papéis e governança.
Outra reunião importante aconteceu no dia 19 de agosto promovido pela Sociedade Rural Brasileira (SRB). No encontro “Tarifaço: Alternativas para os cafés brasileiros”, foram discutidos os impactos da tarifa de 50% do Governo dos EUA sobre o café brasileiro, reunindo mais de 60 representantes de diferentes entidades, especialistas e empresários do setor com o objetivo de debater riscos, oportunidades e a necessidade de estratégias conjuntas para enfrentar o cenário geopolítico atual, visando defender e promover o café do Brasil.
O evento, mediado pelo Departamento do Café da SRB, teve colaborações do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), da Brazil Specialty Coffe Association (BSCA) e do Insper Agro Global.
Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global, destacou que o cenário global de comércio está sem regras claras e defendeu que o Brasil se prepare para ambientes incertos, formando grupos estratégicos, lideranças capacitadas e evitando alinhar-se a EUA ou China, e sim negociar com ambos os países. Ressaltou que o tarifaço é político e não comercial, defendendo alternativas como presença em Washington, mapeamento de aliados e campanhas estruturadas para abrir mercados.
Na mesma linha de marcar presença na capital norte-americana, o diretor do Cecafé, Marcos Matos, informou que irá para Washington com outros representantes brasileiros para apresentar dados importantes para grupos decisivos, como de parlamentares americanos. “Estamos indo para fazer um trabalho de choque, levando dados concretos”, frisou. Ele também destacou que é essencial trabalhar na valorização da imagem do café brasileiro, aproveitando exigências do EUDR para promover um marketing mais estratégico.
Já Vinícius Estrela, diretor-executivo da BSCA, destacou a necessidade de fortalecer o consumo de cafés especiais, explorar novos mercados e adaptar-se às mudanças globais ligadas à sustentabilidade e clima. Ele também avaliou que é necessário investir na profissionalização do lobby internacional para a defesa dos interesses do café do Brasil e acredita que o setor cafeeiro deve ter outras formas de negociar. “Estamos em um cenário que vai nos exigir nova forma de comercializar café. Temos que investir em novos mercados, entender novos consumidores, fragmentar as cadeias, reconquistar mercados tradicionais e estabelecer novos canais na Europa”, pontuou.
Por fim, o diretor-executivo da Abics, Aguinaldo Lima, avaliou que o Brasil carece de maior robustez em sua atuação comercial. Ele afirmou que o café brasileiro não é facilmente substituído em exportações internacionais, pela qualidade e quantidade únicas, o que fortalece a negociação com os EUA e defendeu, também, que o setor deve investir na promoção do café no comércio asiático.