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Café cada vez mais colocado no tabuleiro de xadrez das grandes corporações


Flávio Bredariol


No longínquo ano de 2002 fui convidado por uma grande consultoria agrícola do país para ser coautor de um artigo para o seu tradicional anuário. O texto em questão versava sobre fusões e aquisições e fui incumbido de fazer alguns apontamentos sobre o tema especificamente na área do café. Aquele momento era caracterizado pelo incremento dos conceitos relacionados à globalização e os investimentos externos na agricultura brasileira eram cada vez mais perceptíveis.

Entretanto, no café, ainda havia uma movimentação apenas modesta no que se referia à presença de players internacionais no segmento de grãos torrados e moído em território nacional, ao passo que algumas empresas locais ensaiavam avanços mais efetivos sobre mercados regionais ou buscavam adquirir operações de negócios de porte menor.

O artigo citava a chegada da Sara Lee ao mercado brasileiro como uma expressiva ofensiva sobre marcas consistentemente conhecidas, assim como a aquisição da 3Corações por parte da Straus-Elite, num movimento que foi ensaiado por um longo período. Parecia, naquele instante, um movimento dos mais contundentes, mas o que se observou nos anos que se seguiriam foi que aquele panorama era apenas um ensaio para uma mudança muito mais extrema.

O café, que seguia apenas timidamente a tendência que era descrita no texto para outros setores agrícolas, com o passar do tempo foi recebendo investimentos bastante concretos e, em um segundo momento, começou a verificar a formação de imensos (e poucos) blocos, que se mostraram cada vez mais fortalecidos e capazes de mobilizar montantes financeiros estratosféricos.

O período que separa o texto para a realidade atual, cerca de vinte e poucos anos, foi responsável por uma mudança rotunda do mercado de café torrado e moído, abrindo perspectiva para que apenas grandes players tenham poder efetivo para garantir movimentos mais relevantes.

A cereja do bolo desse cenário se deu há alguns dias — no campo global, mas que afetou diretamente o cenário local —, quando da divulgação de uma informação verdadeiramente bombástica: a norte-americana Keurig Dr Pepper formalizou a compra da holandesa JDE Peet’s por 15,7 bilhões de euros, com foco efetivo nas operações de café, com a formalização de uma empresa independente listada em bolsa em terras norte-americanas.

Com esse movimento que pegou muitos operadores de surpresa, o cenário cafeeiro global se tornou ainda mais restrito, com grupos como Nestlé, Keurig, Starbucks, J. M. Smucker e alguns poucos outros assumindo o controle da torrefação, distribuição e comercialização em grande parte do mundo, num claro cenário em que gigantes promovem suas estratégias e dão as cartas dentro de seus projetos e planejamentos. Ou seja, passado alguns anos daquele simples artigo em um anuário, o que se verificou foi um movimento bem além da globalização, com a consolidação de grandes corporações, com poder decisório que, evidentemente, atinge o produtor que está vendo suas lavouras florescerem até o trabalhador que solicita, no início de mais uma manhã, um bom cafezinho para garantir um pouco mais de ânimo para enfrentar uma nova jornada.

O café efetivamente já era regido pelo humor de grandes fundos que operam nas bolsas de valores de Nova Iorque e Londres e vê um movimento de estruturação da oferta do torrado e moído em mãos de blocos gigantes e com grande poder de fogo. Movimento natural em épocas da chamada internacionalização. O temor que surge é relacionado ao fato de blocos tão grandes (e em número limitados) terem o potencial de direcionar cotações, exigir padrões ou definir tendências, principalmente quando o mercado não tiver uma influência mais clara de fatores limitantes, como o clima ou conflitos regionais. Quem produz deve, cada vez mais, buscar refletir e buscar estratégias para não ficar desguarnecido num cenário em que grandes corporações tendem a ditar para onde a fumaça do café bem quente se esvai quando colocado em uma xícara.


Flávio Bredariol é jornalista.

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Contrato Cotação Variação
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Março 401,10 +18,75
Maio 387,90 +17,90
Contrato Cotação Variação
Novembro 4.840 + 239
Janeiro 4.775 + 248
Março 4.694 + 240
Contrato Cotação Variação
Dezembro 506,65 +22,00
Março 497,10 +19,90
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  • Varginha
    Descrição Valor
    Certificado 15% R$ 2620,00
    Safra 25/26 20% R$ 2580,00
    Peneira14/15/16 R$ 2670,00
    Duro/riado/rio R$ 2080,00
  • Três Pontas
    Descrição Valor
    Miúdo 14/15/16 R$ 2470,00
    Safra 25/26 18% R$ 2590,00
    Certificado 15% R$ 2620,00
    Duro/riado/rio R$ 2080,00
  • Franca
    Descrição Valor
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    Safra 25/26 15% R$ 2600,00
    Moka R$ 2450,00
    Duro/Riado 15% R$ 2310,00
  • Patrocínio
    Descrição Valor
    Safra 25/26 15% R$ 2600,00
    Safra 25/26 30% R$ 2580,00
    Peneira 17/18 R$ 2730,00
    Rio com 20% R$ 1750,00
  • Garça
    Descrição Valor
    Safra 25/26 20% R$ 2590,00
    Safra 25/26 30% R$ 2570,00
    Duro/Riado 15% R$ 2150,00
    Escolha kg/apro R$ 36,00
  • Guaxupé
    Descrição Valor
    Safra 25/26 15% R$ 2600,00
    Safra 25/26 25% R$ 2580,00
    Duro/riado 25% R$ 2050,00
    600 defeitos R$ 2350,00
  • Indicadores
    Descrição Valor
    Agnocafé 24/25 R$ 2600,00
    Cepea Arábica R$ 2376,04
    Cepea Conilon R$ 1477,18
    Conilon/Vietnã R$ 1588,00
  • Linhares
    Descrição Valor
    Conilon T. 6 R$ 1500,00
    Conilon T. 7 R$ 1480,00
    Conilon T. 7/8 R$ 1460,00