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Não estaria mais que na hora de se pensar em café libérica?


Flávio Bredariol


O Brasil é um verdadeiro dínamo no que se refere à pesquisa cafeeira. O país conseguiu vencer desafios dos mais complexos para se tornar, de longe, a maior origem produtora do grão. Dos campos experimentais aos laboratórios vinculados a instituições de ensino, de pesquisa e de desenvolvimento agrícola surgiram cultivares variadas de café que hoje garantem a pujança da cafeicultura nacional. Há plantas amplamente produtivas, outras que se protegem contra doenças ou pragas, outras que se adaptam a determinados tipos de climas. Ou seja, estudos avançados garantiram a obtenção de plantas que vão se moldando à realidade vivida nas zonas produtoras.

O problema, no entanto, aparece quando se pensa que o atual momento do mundo é caracterizado por um cenário muito mais agudo, o das mudanças climáticas. Exemplos práticos não faltam. O terminal cafeeiro de Nova Iorque vem operando ao longo de meses e mais meses em patamares consideravelmente alto de preços, refletindo naturalmente uma oferta mais limitada do grão de origens relevantes, como o próprio Brasil, que vem sentindo o impacto da estiagem e de temperaturas consideravelmente altas em momentos chaves do desenvolvimento do fruto. Aliás, isso ocorreu peremptoriamente em 2023, em 2024 e há o risco de se repetir em 2025, o que afetaria consideravelmente a safra do próximo ano. 

As mudanças climáticas são inegáveis, sendo refutadas apenas por aquela pequena parcela do mundo que acredita que o planeta é plano. Ou seja, todos os alarmes emitidos ao longo das últimas décadas agora estão se tornando realidade e, evidentemente, as políticas que poderiam modificar esse cenário de caos não foram empregadas, afinal, as grandes corporações e os governos de países dito desenvolvidos em nenhum momento se engajaram efetivamente nessa luta por um mundo sustentável. 

Desse modo, secas, enchentes, inundações, desmoronamentos, calores intenso, tufões e uma miríade de outras aflições naturais vão ser cada vez mais recorrentes, afetando segmentos econômicos, matando pessoas, criando deslocamentos populacionais e instaurando cenários muito mais famélicos. E o café, evidentemente, não fica alheio a isso. Os reflexos já estão sendo notados, com produções menos relevantes em países chave, com problemas climáticos que derrubam potenciais produtivos e com a incerteza de que determinadas variedades possam continuar a ser plantadas em regiões cujo clima tenha apresentado modificações alarmantes.

Dentro do cenário mencionado, alternativas devem ser buscadas para garantir que o café continue a ser tão relevante para a economia de um país como o Brasil. É evidente que, no momento em que o leitor está consumindo esse artigo, algum pesquisador está debruçado sobre um microscópio ou uma tela de computador em busca de gerar um café que possa ser plantado em áreas relevantes do país, como o sul de Minas ou o cerrado, mas que tenha proteções devidas em relação a mudanças climáticas bruscas, como meses e meses sem precipitações e temperaturas muito mais altas que aquelas que eram consideradas como média histórica.

Nesse contexto, outro café surge como uma alternativa interessante no contexto climático, podendo ser um rival interessante em relação aos arábicas e robustas. Trata-se do libérica, que é fruto de uma composição de três espécies distintas, com adaptações fenéticas e morfológicas, que, segundo estudos recentes, se mostrou muito mais resistente aos problemas climáticos que as duas variedades mais tradicionais do grão comercializadas globalmente nos dias atuais.

O libérica já se encontra em produção em localidades variadas do globo, como Vietnã, Sudão do Sul, Índia, Filipinas, Uganda, Indonésia, entre outros, sendo que o volume colocado à disposição dos compradores se mantém praticamente inócuo. Entretanto, várias pesquisas já foram realizadas e outras estão em curso, mostrando um potencial interessante para esse tipo de grão. 

Nesse contexto, o Brasil também deveria se atentar e avaliar, de forma mais abrangente, o potencial dessa variedade em terras locais. Efetivamente, alguns pesquisadores já devem estar focados nesse produto no atual momento, mas, ante mudanças tão agressivas do clima, depreende-se que seria necessário que a avaliação do libérica em terras nacionais ganhasse maior corpo, abrindo espaço, inclusive, para a produção comercial, com os primeiros lotes permitindo avaliar a aceitação junto aos compradores, o potencial de produtividade e também a força da bebida decorrente desse grão diferenciado.

Segundo um estudo elaborado pela Embrapa, o café libérica é uma espécie distinta de café, com características que o tornam naturalmente adaptado a condições adversas. Esse grão foi verificado inicialmente na África Ocidental e nessa região ele ganha relevância por contar com robustez e capacidade de prosperar em climas mais quentes e úmidos, nos quais outras espécies de café podem não se desenvolver adequadamente. O ibérica conta com características como: ter porte maior, podendo atingir até 17 metros de altura; sistema radicular mais profundo, permitindo melhor absorção de água e nutrientes; folhas mais largas e robustas, que auxiliam na regulação térmica da planta. 

Ou seja, são potencialidades que permitem uma resistência superior a estresses hídricos e térmicos em comparação com o arábica e o robusta, por exemplo.

Pode ser um sonho de uma noite de verão? É claro que pode ser, mas, tal como as mudas enxertadas para combater a ferrugem cultivadas nos anos 1970 no interior paulista, que foram praticamente a salvação da cafeicultura nacional, a aposta em uma variedade diversa e com significativa resistência à seca e calor pode ser um novo lance para garantir que o café continue a ser uma figura de destaque no segmento agrícola nacional.


Flávio Bredariol é jornalista.

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