CNC debate cenários futuros para a sustentabilidade econômica da cafeicultura brasileira e confirma seminário de estatísticas com diretor executivo da OIC
ESTATÍSTICAS — Nasexta-feira passada, 2 de março, o Conselho Diretor do CNC se reuniu em Ribeirão Preto (SP), oportunidade na qual se definiu o dia 11 de maio para a realização do Seminário de Estatísticas de Café – Aprimoramento Doméstico e Alinhamento Internacional, que contará com a presença do diretor executivo da Organização Internacional do Café (OIC), José Sette, em Brasília (DF).
O encontro é resultado dos contatos iniciados em novembro de 2017 com o principal representante do organismo internacional e tem o objetivo de conhecera metodologia utilizada pela OIC para estimar os números que tem divulgado sobre o café do Brasil, em especial os relacionados a produção e estoques e buscar, junto às instituições públicas nacionais de pesquisa, um alinhamento daestratégia para que haja convergência dos números (mais informações no Balanço Semanal de 12 a 16/02 - http://www.cncafe.com.br/site/interna.php?id=13929).
A reunião do Conselho Diretor também envolveu debate sobre uma série de questões referentes à cafeicultura brasileira, visando a um melhor posicionamento a ser adotado pelo setor para manter sua competitividade e ampliar seu market share,as quais são apresentadas na sequência.
COMPETITIVIDADE — A discussão sobre como o País pode ser mais competitivo na produção de café eampliar sua participação no mercado internacional gerou a conclusão de que quem "faz a qualidade" é o consumidor, uma vez que há público para todosos tipos e sabores da bebida. Nesse cenário, destacou-se que é importante estaratento à diversidade e compreender que há espaço para todas as qualidades decafé.
A questão da diversidade também foi mencionada, havendo consenso que o conceito“one stop shopping” – encontrar no mesmo local uma ampla gama de produtos – é muito valorizado. Para isso, no entanto, é necessário entender aspeculiaridades de cada região produtora e as interações entre colheita epós-colheita e o que isso pode oferecer ao consumidor. Embora o Brasil tenhabancos de germoplasma bastante completos, não se pode ignorar os 'BAGs' de outros países, sendo preciso refletir sobre como a interação e a troca deconhecimentos pode beneficiar a cafeicultura nacional.
Presente no debate, o gerente agrícola de cafés da Nestlé, Pedro Malta, anotou que a diversidade é muito importante porque diminui a complexidade logística daindústria de comprar em origens diferentes. "Se um café suave centro-americano puder ser encontrado no Brasil, certamente a indústria preferirá comprar tudo aqui, ao invés de ter que administrar três ou quatro pontos de compra".
Ele completou que, no que se refere a serviços, a transparência de mercado favorece a realização de negócios no País, sendo oportuno que as instituições apresentem especificações das origens cafeeiras e permitam que os consumidores conheçam com mais intensidade regiões brasileiras ainda pouco conhecidas.
CUSTOS DE PRODUÇÃO —O debate foi voltado a encontrar soluções que reduzam os gastospara cultivar café e, a esse respeito, chegou-se ao entendimento de queinvestimento em tecnologia é fundamental, envolvendo genética e sistemas demonitoramento das áreas produtivas.
Também foi alertado que o uso da tecnologia requer educação, por isso éimportante o aumento do investimento realizado pelas cooperativas emcapacitação de produtores, haja vista que a velocidade de disponibilização denovas tecnologias é alta.
Os conselheiros também foram informados que é fundamental saber quem vai usar atecnologia, garantindo que seja aplicada corretamente, pois a sua má aplicaçãocausa efeito reverso de elevar o custo e reduzir a sustentabilidade.
Outro aspecto apresentado foi que permanece o dilema do médio produtor: sergrande demais para dar conta do serviço com o trabalho familiar e pequenodemais para arcar com investimentos expressivos em tecnologias.
Como uma alternativa de solução a este problema, o representante da Nestlépropôs o processo de diferenciação do café, de forma que se alcance um preçomédio levemente superior do que este produtor médio vem experimentando.
Diferente solução exposta foi o uso da tecnologia de comunicação para aproximaro produtor do consumidor final estrangeiro, seguindo uma tendência mundial decomércio através de plataformas similares aos serviços oferecidos por Uber,Airbnb, Hinode, Netflix, Spotify, ifood, entre outras, as quais aproximam osconsumidores e seus interesses aos produtos que lhes interessam.
Os conselheiros expuseram, ainda, que o investimento em cafés diferenciadosencarece a produção e o volume cultivado é pequeno, que há necessidade dequalificação dos cafeicultores para terem ciência de seus custos e, por fim, ocrescente aumento nos gastos, apesar dos ganhos de eficiência do produtorbrasileiro, o que resulta em margens muito estreitas.
Sobre esse ponto, entendeu-se que os cafés diferenciados, mesmo "maiscaros", servem de mola propulsora aos demais tipos produzidos (nãodiferenciados), pois trazem notoriedade às origens cafeeiras.
Encerrando este debate, o presidente executivo do CNC recordou de um importantetrabalho realizado pelo Conselho, em parceria com CNA e OCB, que evitou oaumento da tarifa de importação sobre importantes ingredientes ativos utilizadosna cafeicultura, resultando em um maior encarecimento nos custos.
ESTÍMULO AO CONSUMO— O lançamento de um programa que incentive o crescimento doconsumo mundial de café, no âmbito da OIC, foi visto com bons olhos por todos.Há a crença que um projeto nesse sentido, no seio da Organização Internacional,é uma excelente iniciativa, pois há formas inteligentes e efetivas paraestimular o consumo que já foram usadas no passado e podem ser atualizadas.
MERCADO PARAARÁBICAS INFERIORES — Aproveitando a participação de PedroMalta, os conselheiros levantaram questionamentos sobre o cenário futuro demercado, buscando saber a posição da indústria se futuramente haverá mercadopara os cafés arábicas inferiores ou se o crescimento da demanda será voltado apenaspara conilon e cafés gourmets.
O representante da Nestlé alertou que, de fato, o avanço da demanda tende a servoltado ao robusta e aos arábicas superiores, porém os produtores precisamestar atentos às boas práticas e ao uso correto da tecnologia, a exemplo daintrodução do manejo do mato na entrelinha do café no Norte do Espírito Santopara a redução do resíduo de glifosato.Do ponto de vista dos gourmets, Maltainformou que há boas perspectivas porque o consumo dos países tende a migrarpara cafés de melhor qualidade.
Em contrapartida, ele disse que os arábicas inferiores tendem a valer cada vezmenos nessa perspectiva de mercado, sendo importante, portanto, que as regiõestrabalhem para reduzir a participação desse tipo de café na produção total. Porfim, alertou que é recomendável que os agricultores adotem estratégias denegócio para maximizar o preço médio recebido e que as lideranças das origensprodutoras fiquem atentas a oportunidades e riscos.
MERCADO —Os futuros do café arábica tiveram desempenho negativo nesta semana,principalmente em função do fortalecimento do dólar em nível internacional.
No Brasil, a moeda norte-americana foi cotada ontem a R$ R$ 3,2645, valor maiselevado do último mês, representando alta de 0,4% em relação à últimasexta-feira. A valorização da divisa dos Estados Unidos reflete a apreensão dosagentes financeiros com a possibilidade de uma guerra comercial, após o GovernoTrump decidir taxar em 25% as importações de aço e em 10% as de alumínio.
Em Nova York, o vencimento maio de 2018 do contrato C encerrou a sessão dequinta-feira a US$ 1,2030 por libra-peso, com desvalorização de 190 pontos anteo fechamento da semana anterior. Em tendência oposta, o contrato maio/2018 docafé robusta negociado na ICE Futures Europe ganhou US$ 9 e foi cotado a US$1.760 por tonelada.
Ontem, os indicadores calculados pelo Cepea para as variedades arábica econilon se situaram em R$ 430,98/saca e a R$ 304,69/saca, com decréscimos de,respectivamente, 1,4% e 2,5% na comparação com o fechamento da semanaantecedente. O mercado físico nacional operou em ritmo lento nos últimos dias,já que o atual nível de preços não gera interesse de vendas.