Estoques baixos e rolagem de contratos mantêm o mercado agitado
Por Lessandro Carvalho/Safras News
O mercado internacional de café teve mais uma semana de ampla volatilidade nas bolsas de futuros. O café arábica, na Bolsa de Nova York, que baliza a comercialização internacional, teve novamente altos e baixos refletindo incertezas e falta de novidades, sobretudo em relação às negociações e conversas em torno das tarifas americanas sobre as importações do Brasil e também de outros países.
O mercado também segue atento ao clima para a safra brasileira de 2026, após a abertura de floradas e com perspectivas em torno do pegamento dessas floradas, que dependem de um regime regular de chuvas. E a queda nos estoques certificados de NY evidencia um aperto na oferta no curto prazo.
Segundo o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach, a volatilidade do café no terminal de Nova York evidencia a falta de convicção de um mercado carente de novidades e fortemente influenciado pela dinâmica financeira da rolagem de contratos. “Chegou a haver expectativa em torno do anúncio de isenção das tarifas sobre o café brasileiro após a reunião entre Lula e Trump, mas, até o momento, nada mudou — o café brasileiro continua pagando 50% para entrar nos Estados Unidos”, destaca Barabach.
Barabach destaca que os estoques certificados na bolsa de Nova York seguem em queda, somando apenas 418 mil sacas, das quais menos de 14 mil são de origem brasileira. Segundo reportagem da Reuters, tradings estão enviando cerca de 150 mil sacas de café arábica do Brasil para armazéns da bolsa de NY na Europa. “Como o preço interno não acompanha a valorização em bolsa, a entrega física se tornou lucrativa, o que estimulou a entrega e deve elevar o volume de café certificado em bolsa”, indica.
A combinação entre estoques baixos e a rolagem de contratos — com a posição dezembro/25 chegando ao fim — mantém o mercado agitado e tem causado dor de cabeça a muitos operadores. “Esse ambiente reforça o nervosismo e amplia o risco de alta volatilidade das cotações do café em bolsa. Embora o movimento esteja parcialmente descolado do mercado físico, ele influencia os preços globais, reduz a liquidez e aumenta as incertezas”, avalia.
O consultor destaca que é importante lembrar que as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos ao café brasileiro alteraram profundamente o fluxo global da bebida. O maior comprador do mundo tarifou seu principal fornecedor — responsável por mais de 30% do abastecimento norte-americano — tornando inviável as negociações. O desequilíbrio resultante e a corrida dos compradores norte-americanos deram sustentação aos preços internacionais.
Para ele, o contexto se agravou porque a maioria das outras origens estava em entressafra, deixando o Brasil praticamente isolado no mercado. A busca por cafés alternativos — da Colômbia, América Central, África e Ásia, inclusive robustas — não foi suficiente para suprir a demanda. Com isso, os diferenciais de venda dispararam: o café colombiano, por exemplo, chegou a ser negociado com diferencial superior a +30 centavos por libra-peso contra NY no FOB Buenaventura.
Observa, Barabach, que a curva de preços do arábica em NY mostra que, após a guinada altista iniciada em agosto — impulsionada pelas tarifas — e a consolidação dos ganhos em setembro, outubro foi um mês de lateralidade, mas com preços elevados. “As tarifas permanecem em vigor. As várias floradas no Brasil adiam as primeiras impressões sobre o potencial produtivo da safra 2026, o que mantém o ambiente de incerteza”, coloca.
“A indústria norte-americana, com estoques reduzidos, continua exercendo forte pressão e pode acelerar a decisão sobre as tarifas. Essa decisão traria mais tranquilidade ao mercado — especialmente neste período de pico de consumo, com a chegada do inverno no Hemisfério Norte. O avanço dos embarques de importantes origens, como Vietnã, Colômbia, Etiópia e Centrais, tende a trazer um pouco de alívio ao abastecimento”, avalia o consultor. Paralelamente, ele indica, os “crop tours” da nova safra brasileira devem ganhar força ao longo de novembro, trazendo as primeiras ideias sobre o potencial produtivo do Brasil em 2026. “Em resumo: o mercado segue à espera de sinais mais claros — e, por enquanto, evita assumir uma direção mais definida”, conclui.