Após reunião, Brasil e EUA podem ter em breve acordo provisório sobre tarifas
No fim da tarde de hoje, 13, o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reuniu com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, na sede do Departamento de Estado, em Washington. É a terceira vez que ambos se encontram na capital americana desde que o governo Trump anunciou tarifas de 40% e a primeira leva de sanções contra autoridades brasileiras, em julho.
Nenhum acordo ou anúncio foi feito, mas segundo Vieira, a expectativa do Brasil é que os americanos anunciem em breve algum tipo de "acordo provisório" com o Brasil, que idealmente incluiria uma pausa temporária no tarifaço —por ao menos 60 dias— para permitir uma negociação bilateral final setor a setor. O UOL apurou que não houve menções diretas ao presidente Jair Bolsonaro na conversa.
De acordo com Vieira, Rubio "reafirmou [o interesse] de se chegar a um acordo provisório até o final desse mês, ou princípio do mês que vem, que estabelecesse um mapa do caminho para uma negociação que poderia durar dois ou três meses, para então se concluir definitivamente todas as questões entre os dois países".
O ministro ainda comemorou o que qualificou como "uma demonstração do interesse do governo americano, do secretário de Estado, em solucionar todas as questões ainda pendentes na relação com o Brasil. Um sinal de desejo de solucionar, de dar a volta nessa página".
A conversa entre Rubio e Vieira — em espanhol — começou pouco antes das 17h no horário local (19h em Brasília) e durou cerca de dez minutos. Na sequência, o diálogo prosseguiu em inglês e foi acompanhado por assessores de ambos os lados. Os americanos compartilharam interesses e preocupações a respeito de big techs, regulações e liberdade de expressão —pauta que o Brasil se diz aberto a negociar entre as questões tarifárias e comerciais.
Entre os interesses do Brasil para a conversa estava ouvir com clareza as demandas americanas e cobrar respostas aos pedidos brasileiros. No último dia 4, o Brasil enviou ao Representante Comercial dos EUA um documento no qual detalha suas prioridades e os pontos nos quais vê condições propícias para negócios, uma espécie de "mapa do caminho da negociação", conforme descreveu ao UOL um embaixador brasileiro com conhecimento das negociações.
"O secretário do Estado disse que estão examinando com toda atenção e todo tempo [as propostas do Brasil], que querem resolver rapidamente as questões bilaterais com o Brasil e que a resposta virá muito proximamente, amanhã ou na próxima semana", disse Vieira.
Ainda de acordo com o chanceler brasileiro, Rubio teria ainda relatado uma conversa que teve hoje com o presidente dos EUA, Donald Trump, em que novamente recebeu instruções de resolver as questões com o Brasil rapidamente.
Há mais de três meses, cerca de 60% dos produtos brasileiros exportados aos EUA são sobretaxados em 50% —incluindo itens como café e carne, que têm pesado no bolso dos americanos. Tanto o presidente americano Donald Trump quanto o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva já indicaram interesse em negociar. O líder brasileiro tem pedido a suspensão do tarifaço enquanto as negociações transcorrem, o que ainda não aconteceu.
No início da noite, o porta-voz adjunto do Departamento de Estado, Tommy Pigott, afirmou que "o Secretário Rubio e o Ministro Vieira discutiram um quadro de reciprocidade para a relação comercial entre os EUA e o Brasil", e que o diálogo acontecia em consequência do encontro entre Lula e Trump na Malásia em 26 de outubro.
Em suas redes sociais, Rubio compartilhou uma foto sorridente do aperto de mão com Vieira e afirmou que ambos discutiram "assuntos de mútuo interesse".
Hoje, a Casa Branca anunciou acordos comerciais com quatro países da América Latina: Argentina, El Salvador, Equador e Guatemala. Os acordos incluem tarifas mais baixas para produtos como café e banana importados desses países pelos EUA.
Na conversa entre Vieira e Rubio, assuntos da região foram mencionados. Falou-se tanto de Venezuela quanto de Haiti, dois países com crises específicas.
No caso do Haiti, a expectativa é desenvolver formas em que EUA e Brasil possam atuar juntos para ajudar a debelar a falência do Estado.
Já Venezuela é um tema espinhoso, uma vez que o Brasil não apoia as incursões bélicas que os americanos fazem na área, a despeito de tampouco reconhecer o governo de Nicolás Maduro como legítimo.
Segundo uma fonte que participou do encontro, o tema foi tratado de modo breve, e os dois países expressaram suas preocupações.