Café do Brasil na COP30: compromisso, realidade e justiça comercial
Leia, na sequência, artigo de autoria de Silas Brasileiro, presidente do CNC (Conselho Nacional do Café).
A COP30, realizada em Belém do Pará, marcou um momento histórico para o Agronegócio brasileiro. Pela primeira vez, o setor esteve oficialmente inserido no principal ambiente global de debates sobre mudanças climáticas e meio ambiente. No Pavilhão Agro Brasil, ao lado das entidades do segmento, o Conselho Nacional do Café (CNC) participou ativamente de agendas que reafirmam o compromisso dos cafeicultores com a sustentabilidade, a inovação e a responsabilidade socioambiental.
O encontro está reunindo representantes de 160 países, consolidando a COP30 como um espaço estratégico para decisões que podem redefinir o futuro do planeta. Entretanto, mesmo diante da gravidade do cenário climático, ainda há chefes de Estado que relutam em reconhecer a realidade que vivemos. Seja por ignorância, seja por interesses alheios ao bem comum, muitos chegam a desconsiderar ou até afrontar soluções concretas apresentadas pela comunidade científica e pelos países em desenvolvimento.
Apesar disso, aqueles que vivem na prática os efeitos das mudanças climáticas não podem desanimar. Agricultores, técnicos, pesquisadores e instituições carregam diariamente a responsabilidade de produzir alimentos e gerar renda, mesmo diante das adversidades impostas pela estiagem, pelas chuvas extremas e pelos eventos climáticos cada vez mais frequentes. Essa é uma luta, por vezes inglória, mas profundamente nobre.
Nesse contexto, é importante destacar a iniciativa do Sistema CNA/Senar na criação e condução do Pavilhão Agro Brasil. O CNC agradece o convite e se fez presente por meio de cooperativas, lideranças e entidades representativas, mostrando que a cafeicultura brasileira está alinhada às melhores práticas ambientais e preparada para dialogar em alto nível com a comunidade internacional.
O setor tem muito a contribuir. O café brasileiro é referência mundial não apenas pela qualidade, mas também pelos avanços em agricultura regenerativa, rastreabilidade, baixa emissão de carbono e conservação das áreas nativas. Somos parte da solução – e não do problema.
Durante as atividades no Pavilhão Agro Brasil, outro tema de grande relevância foi discutido: a expectativa de redução da tarifa aplicada pelo governo americano ao café brasileiro. Embora houvesse expectativa de retorno ao nível anterior ou, no mínimo, de uma redução expressiva, o resultado anunciado foi decepcionante. A diminuição foi mínima, incapaz de gerar impacto real sobre a competitividade do nosso produto no mercado norte-americano.
A cafeicultura brasileira esperava um gesto mais consistente, especialmente considerando o esforço contínuo do setor para atender às exigências ambientais e de mercado. A injustiça tarifária é evidente: produtos de outros países entram nos Estados Unidos com condições mais favoráveis do que aquelas impostas ao Brasil, mesmo quando nossa produção se destaca em responsabilidade socioambiental e qualidade.
É necessário reconhecer o empenho do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, que tem demonstrado disposição e compromisso para corrigir essa distorção. Sua atuação firme e diplomática é fundamental para que possamos avançar em negociações que garantam equidade e competitividade ao café brasileiro.
A luta por uma redução tarifária justa e efetiva continua. O CNC, junto às cooperativas, às entidades e ao governo federal, seguirá empenhado para que os Estados Unidos revejam sua posição e façam um novo anúncio que atenda às legítimas demandas dos produtores brasileiros.
A COP30 evidenciou que o mundo enfrenta desafios complexos, que exigem coragem, determinação e comprometimento real das nações mais ricas. Sem ação concreta, qualquer conferência se torna vazia, por mais discursos que sejam feitos. O Brasil, especialmente o setor do café, tem mostrado com fatos sua disposição em contribuir com soluções.
Seguiremos firmes, com esperança e perseverança, para que o reconhecimento internacional venha não apenas em palavras, mas também em decisões comerciais justas. Vamos juntos trabalhar por resultados que valorizem a cafeicultura brasileira e assegurem a competitividade do nosso produto no mercado americano.